terça-feira, 25 de maio de 2010

Painéis FUNARTE de Regência Coral

Os Painéis FUNARTE de Regência Coral têm desempenhado um importante papel no processo de qualificação dos coros brasileiros. O programa surgiu na década de setenta, foi interrompido no final dos anos oitenta e retomado em 2007. Nesta segunda fase, os Painéis já foram realizados em diferentes cidades, contribuindo para a formação de, aproximadamente, mil pessoas. As atividades desenvolvidas nestes cursos são variadas, envolvendo a discussão sobre metodologia de ensaio, técnica vocal, repertório coral, bem como os aspectos sociais, culturais e educativos desta importante prática musical. 

Já tive a oportunidade de ministrar aulas em dois Painéis (Recife-PE, 2008 e São Carlos-SP, 2010), sempre trabalhando ao lado do competente professor Ângelo Dias, da Universidade Federal de Goiás. Cada encontro é sempre uma incógnita porque nunca conseguimos definir, precisa e antecipadamente, o perfil da clientela com a qual vamos lidar, seus interesses, objetivos, metas e prioridades. No entanto, a experiência é sempre muito positiva e enriquecedora. Recentemente, em São Carlos, trabalhamos com mais de uma centena de profissionais e estudantes oriundos da UFSCar e de diferentes cidades do interior do estado de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Ao longo desta semana, preparamos um recital com dez obras brasileiras, incluindo música sacra e secular, para coro misto e infantil, a maioria delas originais, publicadas pela FUNARTE e disponíveis gratuitamente no site http://www.funarte.gov.br/portal/2010/04/20/serie-de-coro-juvenil. Esta coleção revela a nova safra dos compositores brasileiros que têm se dedicado à música coral, dentre os quais se destacam Ângelo Dias, Caio Senna e Stella Junia. Todo este trabalho é fruto da política cultural da FUNARTE, que tem procurado descentralizar e democratizar o acesso à arte, à música e à informação. É importante destacar o trabalho incansável e determinado da professora Zezé Queiroz, essa mulher gigante, forte e organizada, que tem sido a nossa voz dentro do Centro de Música daquela fundação. É ela quem luta pelas verbas e assegura as parcerias indispensáveis à consecução dos objetivos deste projeto tão importante e necessário para a emancipação do canto coral brasileiro.

Este ano ainda temos Painéis  no Crato-CE (24 a 29 de maio), Ponta Grossa-PR (21 a 26 de junho), Cuiabá-MT (15 a 20 de novembro) e Mariana-MG (29 de novembro a 4 de dezembro). Os resultados obtidos com os cursos têm sido os melhores, como foi possível atestar em São Carlos, onde, no recital de encerramento, fomos informados que os regentes da cidade passariam, a partir daquele momento, a desenvolver ações conjuntas com o intuito de aprimorar e expandir a prática do canto coral. No âmbito da UFSCar, a professora Jane Borges também terá uma realidade diferente, sobretudo com a criação dos novos grupos. Que o Brasil continue cantando cada vez mais, cada vez melhor.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A plateia ideal

Todo músico sofre quando se depara com uma plateia despreparada, que se comporta de forma barulhenta, irrequieta, inadequada. Creio que a solução está na (re) educação do público, razão pela qual sugiro a inclusão, nos nossos próximos programas, de um roteiro com informações que conscientizem os ouvintes sobre a natureza do nosso trabalho.

É muito importante que o concerto comece na hora prevista e que o público chegue antecipadamente, com tempo para estacionar, comprar ingresso e ler o programa. Aqueles que chegam atrasados devem entender que o abrir/fechar das portas desconcentra os músicos e os outros ouvintes. Por isso, eles só devem entrar na sala de concertos durante os aplausos. O mesmo vale para aqueles que precisam sair antes do término da apresentação. Melhor seria que estas pessoas ficassem, discretamente, na última parte da sala, entrando/saindo sem serem notadas.

Ao entrar no teatro, todos devem desligar o celular, evitando deixá-lo no modo silencioso ou vibratório, o que poderá ser perigoso e embaraçoso, sobretudo se a pessoa tiver que atendê-lo. As pessoas precisam entender que, num concerto, o mais importante é a música, o som produzido pelos artistas, que passaram horas se preparando para aquele momento. Todo e qualquer outro som poderá comprometer a atuação dos intérpretes e a audição dos demais presentes, passando a ser classificado como ruído. Frequentemente, os ruídos que mais incomodam são: o murmúrio produzido pelas pessoas que tentam acompanhar a obra que está sendo executada; o abrir e fechar das embalagens de bombons e similares; o manusear dos programas de concertos; as conversas sussurradas; as tosses, os espirros e os pigarros da plateia. Tudo isso pode ser controlado. Tudo isso precisa ser evitado para não comprometer a compreensão do discurso musical, irritar as pessoas em derredor, estragar a gravação áudio-visual do espetáculo. Outra coisa que atrapalha bastante é quando alguém resolve filmar e/ou fotografar o espetáculo usando lâmpadas e flashes que alteram a luz do ambiente, ofuscando os músicos no palco. O pior é quando cinegrafistas e fotógrafos, mesmo possuindo equipamentos modernos e potentes, se aproximam do palco para capturar detalhes. Antes de fazer qualquer registro áudio-visual, certifique-se de que você tem autorização legal para tal finalidade.

O público também precisa aprender a aplaudir, respeitando as especificidades de cada obra. Geralmente, as manifestações de apreço, numa composição com vários movimentos, devem ser resguardadas para depois do último movimento. Por isso é tão importante familiarizar-se com o repertório e ler o programa antes do início do concerto. O processo de (re) educação da plateia é longo, lento e fundamental para a fruição estética em sua plenitude.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)