sábado, 28 de abril de 2012

Hail, gladdening light!*

Today we are celebrating the choral excellence of Dr. Kenneth Fulton, a man whose career as a professor, conductor, researcher, and music maker has touched and changed many lives. My life is one such example. There are two distinct periods in my life: the time before I arrived in the United States and the time after the four years I spent here. During those four years at LSU Dr. Kenneth Fulton was the most important influence in my thinking about music, myself, teaching and education. Because of his teaching and passion for music, I know I’m a stronger professor, a fine musician, and a better human being.

One of the most remarkable experiences during my time at LSU was in the summer of 2001. I was taking Contemporary Choral Literature and I had to present a seminar on Penderecki’s St. Luke Passion. I was scared and afraid because that was my first seminar here at LSU. For those of you not familiar with that piece, it is one of the most important works written in the twentieth century. It is a very long piece, rich in details and very intricate. In addition to these musical issues, I also had the language barrier. I tried, unsuccessfully, to escape from the very hard task of preparing a seminar on the piece. Besides ignoring my complaints, Dr. Fulton encouraged and supported me on the challenge. I spent many hours analyzing that piece, relating music to text, as well as evaluating some tonal aspects never discussed before. It was an experience of a life time – as you told me it would be.

Dr. Fulton, your legacy extends far beyond the United States. You saw that first hand when you came to Brazil last year. As you mentioned to me, my students have some kind of fire in their eyes, a passion for knowledge and music. That is because of you. You taught me to love music even more.

I am grateful to you for all the hours of consultation, meetings, comments, suggestions, professionalism, and friendship while I was at LSU. Unquestionably, you made LSU an unparalleled experience. And, your commitment to music and your former students doesn’t end when we graduate and leave LSU. I will continue to value your advice as a colleague as I build a robust choral program at my university in Brazil. I am honored you are part of my development as a professor and musician. I hope to follow your example of teaching students to become ambassadors of music so they in turn will share their love of music with others just as you have done.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

This text was originally presented on April 21, 2012 during the ceremonies in honor of the choral excellence of Dr. Kenneth Fulton, a lifetime of music-making! Hail, gladdening light is one of his favorite pieces. To watch the video of the concert, visit http://www.ustream.tv/recorded/22056381 I would like to thank Pam Kaster for revising the text.

domingo, 22 de abril de 2012

Guajira espúria

A Guajira espúria é um dos temas incluídos na Chegança de Mouros, coletada na cidade de Natal-RN, por Mário de Andrade, e inserida no livro Danças Dramáticas do Brasil, primeiro tomo, publicado pela Editora Itatiaia em convênio com o Instituto Nacional do Livro e a Fundação Nacional Pró-Memória, de Belo Horizonte, em 1982. No início deste ano, compus uma obra para coro misto a quatro vozes usando o material coletado por Mário de Andrade, que registrou a chegança na versão fonética mais aproximada, tomando como base a dicção dos seus colaboradores. A transcrição prosódica do pesquisador foi mantida na composição, razão pela qual regentes e cantores devem atentar para este aspecto durante o processo interpretativo. Originalmente, a canção possui dez versos. No entanto, nesta composição usei apenas as estrofes um, dois, quatro, sete e dez.

A obra está divida em três seções, sendo a primeira até o compasso 31, a segunda até o compasso 50 e a última até o 62. Enquanto a primeira e terceira seção são notadamente homofônicas e baseadas no mesmo material, a seção intermediária é contrastante, evocando o espírito seresteiro e modinheiro da música brasileira da primeira metade do século XX. Sob a perspectiva melódica e harmônica, a obra apresenta elementos modais típicos do Nordeste brasileiro. A alternância do compasso ternário simples com o binário composto enriquece o caráter rítmico e dançante típico da guajira, de origem cubana.

A estreia da obra ocorreu nos Estados Unidos da América, com o Texas A & M University Concert Chorale, sob minha regência (vídeo). Durante a preparação, colaborei dando sugestões sobre o tempo e a pronúncia do Português Brasileiro, levando em consideração as idiossincrasias do texto. Um fato interessante nesse processo foi a minha participação em um dos ensaios do grupo por meio do SkypeTM. Discuti com o maestro Randall Hooper a melhor forma de viabilizar esse encontro virtual e no dia e horário combinados tive a honra de acompanhar o nascimento da obra.

Após uma semana naquela universidade, regendo, cantando e proferindo palestras, volto para o Brasil com vários projetos em andamento. O primeiro deles é que pretendemos trazer o TAMUC Chorale e seu regente para o Festival Internacional de Música de Campina Grande. A segunda é que também iremos levar o Coro de Câmara de Campina Grande, ainda este ano, para aquela universidade. Enquanto voo, penso na velocidade, no tempo e nas distâncias percorridas. Fiquei imaginando como Mário de Andrade reagiria ao saber que os frutos da sua pesquisa foram ressignificados, ganhando novos sentidos em terras estadunidenses, e o que ele diria sobre aquele ensaio via internet. Tal como na guajira, a permanência e a alternância são marcas da nossa contemporaneidade e diluem nossas fronteiras, ora nos afastando, ora nos aproximando.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Repertório para coro infanto-juvenil

A FUNARTE lançou, em 2010, uma série para coro infanto-juvenil com as seguintes composições: Dúvidas (André Protasio), Bolocochê (André Vidal), Por entre os quintais (Aurélio Melo), Água (Cadmo Fausto), Adultos e crianças (Danilo Guanais), Alegria (Thelma Chan), Receita de alegria (Vinicius Carneiro) e Fábula (en)cantada, de minha autoria. As obras foram concebidas com o intuito de ampliar o repertório infanto-juvenil, apresentando composições acessíveis para a grande maioria dos grupos brasileiros.

Escrevi para coro a duas vozes com acompanhamento, formado por piano e dois instrumentos melódicos, sendo um grave e outro agudo, que, na partitura, estão indicados como oboé e violoncelo, respectivamente. No entanto, tendo em vista as dificuldades que muitos grupos poderão encontrar, deve-se, em caso de necessidade, substituir o oboé e o violoncelo por outros instrumentos melódicos com características similares. O piano também pode ser substituído por um teclado eletrônico. Quando não for possível executar a parte do piano tal como ela se apresenta, o pianista poderá tomar como referência as cifras, que definem a sintaxe harmônica da composição. Do mesmo modo, um violão poderá ser acrescentado na inexistência do piano ou do teclado. A obra está dividida em três seções, cujos afetos são definidos harmonicamente. A primeira seção, em dó maior, introduz o tema da história e o verso inicial pode ser cantado por um solista ou pequeno grupo de cantores. A ideia é criar um ambiente narrativo num estilo quase recitativo. A seção intermediária, em dó menor, é mais dramática, ritmicamente intensa e caracterizada pelo diálogo entre as partes. A última seção, em dó maior, retoma o lirismo da introdução, apresentando a moral de cada verso e da fábula como um todo. A extensão vocal é de uma nona (Dó3–Ré4) e a melodia, que é 
predominantemente diatônica e por graus conjuntos, está diretamente vinculada ao texto. Ressalto ainda que a transposição é livre e que a canção também pode ser interpretada por vozes afins ou coro misto, conforme o contexto.


Durante o processo de preparação e interpretação, o regente poderá desenvolver trabalhos interdisciplinares, expandindo o campo de conhecimento do aluno-cantor, promovendo a interação da música com outras áreas, visto que esta lenda pode ser o ponto de partida para vários estudos e reflexões. Sempre que possível, e com muita discrição, deve-se recorrer aos recursos cênicos, representando os diferentes momentos da trama, que ganhará mais expressividade com o auxílio da cenografia e dos adereços.

Fábula (partitura - midi) integra a Coleção Música Brasileira para Coro Infantil, que originalmente foi lançada nos anos oitenta. Esta edição, coordenada por Zezé Queiroz e Eduardo Lakschevitz, traz nomes de diferentes partes do país e composições com variadas temáticas. Para ampliar a leitura, veja também Movimentando, Cantata do Sol e da Lua e Cancioneiro da Paraíba. 

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)