sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Por uma prática coral educativa

No último Congresso da Associação Nacional de Pesquisa em Música (ANPPOM), realizado em João Pessoa-PB, apresentei, em conjunto com Jeter Maurício da Silva Nascimento, os resultados de uma pesquisa que desenvolvemos por meio do Programa Institucional de  Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), intitulada Por uma prática coral educativa: Uma proposta de utilização do Guia Prático, de Heitor Villa-Lobos. O texto completo pode ser acessado gratuitamente nos Anais do referido congresso (http://goo.gl/FyWK8a), páginas 1824-1831.

A pesquisa teve como objetivo discutir os pressupostos metodológicos do ensaio coral à luz da educação contemporânea, contribuindo para o desenvolvimento desta prática pedagógico-musical e, consequentemente, o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem em música. Utilizou-se o Guia Prático, de Heitor Villa-Lobos, para demonstrar como o regente/educador musical pode trabalhar diferentes conceitos musicais por meio do repertório coral, substituindo o treinamento pela aprendizagem procedimental. A investigação, com caráter teórico, foi dividida em três etapas. Na primeira, discutiram-se os fundamentos da aprendizagem musical, com especial atenção para o trabalho de J. A. Sloboda (A Mente Musical: A psicologia cognitiva da Música, Londrina: EDUEL, 2008). Na segunda, analisou-se o Guia Prático, do qual foram extraídas obras com diferentes características. Na última, propôs-se uma metodologia de ensaio baseada no repertório selecionado, pois a análise das canções mostrou que vários conteúdos musicais podem ser trabalhados pelo regente/educador, potencializando os aspectos educativos da prática coral.

Baseados nos estudos de Sloboda (2008), concluímos que o processo de aprendizagem e aquisição de uma habilidade, neste caso o solfejo, precisa ser pensado em todas as suas etapas, porque o conhecimento só consegue afetar o comportamento se houver uma regra de produção que possa agir sobre ele, visto que todo comportamento é procedimental. Por isso,  os alicerces de qualquer aprendizagem são a repetição e o retorno. As técnicas pedagógicas de ensaio e exercício são extensões da necessidade natural de repetir, não imposições totalmente externas. O progresso só é alcançado mediante um grau de prática repetitiva, que excede o que seria prazeroso ou intrinsecamente gratificante. Logo, a abordagem do solfejo, de forma isolada e descontextualizada na prática coral, pode comprometer este processo. Assim, é preciso associar o repertório aos conteúdos estudados.

Os resultados da pesquisa não são conclusivos. Espera-se que a proposta possa ser discutida e adaptada a outros repertórios, dinamizando o processo de ensino-aprendizagem no ensaio coral, incluindo coros infantis, juvenis e adultos, substituindo a ineficiente prática do treinamento baseado na imitação, que comumente ocorre quando o cantor reproduz acriticamente aquilo que o regente lhe oferece, por uma forma mais consciente de aquisição do conhecimento. Desta forma, regentes e cantores sairão desse comportamento eminentemente bancário e passivo, usando a máxima Freiriana, e caminharão em direção a uma ação inteligente, baseada na construção de conhecimentos musicais significativos.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)