sábado, 29 de agosto de 2015

Deus já fez o céu bem alto foi para viver sossegado

Eventualmente, regentes corais passam por momentos delicados, especialmente quando o assunto é música sacra. Vários são os casos. Alguns cantores, com certas restrições a esse tipo de repertório, evitam interpretá-lo. Há os que não o fazem por conta da orientação doutrinária e dos vínculos religiosos. Outros são ateus. Há ainda quem cante parcialmente, dublando ou omitindo passagens do texto, palavras e expressões que não estão em consonância com os princípios que professam. O problema se agrava quando certos integrantes, muitas vezes essenciais dentro de um grupo, decidem não participar de uma apresentação pública, porque a mesma será realizada num templo. Para eles não importa a denominação e se o concerto é ou não parte de um serviço litúrgico. Simplesmente, não se envolvem.

É preciso cuidado no trato da questão, pois a liberdade religiosa, um direito constitucional, é uma opção pessoal e está diretamente vinculada à história de vida de cada indivíduo. No entanto, músicos, por mais fervorosos que sejam nas suas convicções espirituais, não podem ignorar a literatura coral produzida por diferentes tradições religiosas, especialmente quando os mesmos atuam em contextos laicos. Sabe-se, por exemplo, que, há alguns anos, um coro profissional brasileiro, mantido com os cofres públicos, só cantou uma obra com temática do candomblé por força de mandato judicial. A exclusão do repertório ligado à cultura afro-brasileira dos acervos dos nossos coros e das salas de concerto é consequência de vários fatores, dentre os quais a estigmatização e o preconceito. A análise superficial do tema, que é amplo e complexo, revela o desconhecimento e a rejeição da diversidade cultural do país, o nosso nível de (in) tolerância e a correlação existente entre o microuniverso da prática coral e a macroestrutura social na qual estamos inseridos.

Num contexto acadêmico, profissional, secularizado, de modo geral, acredito que não há espaço para o proselitismo religioso ou certos melindres teológicos, passionais, com os quais frequentemente temos que lidar. Como regentes, precisamos gerenciar tais conflitos, sem, contudo, privilegiar um ou outro grupo de pessoas em detrimento desta ou daquela verdade.

Para além da fé, devemos cantar com técnica, no tempo, afinado, expressivamente. Precisamos revelar os múltiplos sentidos do texto, seja ele sobre dor ou júbilo, céu ou inferno, ressurreição ou reencarnação, a criação ou o fim da humanidade. Nossa voz precisa ecoar no teatro, no templo, no centro espírita, no terreiro, na sinagoga e na catedral gótica. É por isso que somos educadores, músicos, artistas. Esta é a missão: cuidar da obra musical, prioritariamente, deixando de lado nossas (des) crenças, porque, segundo o sertanejo escolado, como disse W. J. Solha, excelsum valde coelum proprie fecit Deus ut placide vivat, que traduzido significa: “Deus já fez o céu bem alto, foi para viver sossegado.”

Vladimir Silva (silvladimrir@gmail.com)

domingo, 26 de julho de 2015

E assim foi

A sexta edição do Festival Internacional de Música de Campina Grande foi realizada entre os dias 13 e 18 de julho. Foram mais de quinze concertos na região da Rainha da Borborema, totalizando aproximadamente sessenta horas de música para mais de dez mil pessoas. Além dos convidados dos Estados Unidos, Europa e Brasil, recebemos cerca de duzentos alunos oriundos de São Paulo, Minas Gerais e de vários estados do Nordeste.

A atuação dos voluntários da equipe de produção foi exemplar. O engajamento dos artistas e o trabalho do corpo docente tornaram a festa mais bonita. Enquanto os alunos, nas oficinas, ampliavam os horizontes profissionais, revendo saberes e práticas, a plateia se encontrava com Brahms, Poulenc, Villa-Lobos, Reginaldo Carvalho e John Rutter, ouvindo velhas e novas obras, alargando as possibilidades de escuta e de repertório. Tudo isso foi potencializado nos recitais de David Odom, Kayami Satomi, Eduardo Meirinhos, Ingrid Barancoski e Marília Vargas, que esbanjaram técnica, lirismo, virtuosismo e carisma. Os espectadores acompanharam atentamente todas as apresentações, reagindo sempre com muito entusiasmo. As lentes da TV Itararé e da TV IFPB registraram esses momentos de encanto e euforia, as emoções dos artistas e do público. Isso tudo será transformado em programas que serão veiculados na internet e na televisão aberta nas próximas semanas. 

Ao término desta semana, a conclusão é inequívoca: o mercado para a música de concerto está em plena expansão na terra do Maior São João do Mundo. Para que este crescimento ocorra de forma significativa, ainda é necessário envidar muitos esforços, unindo a inciativa privada e o poder público em torno de ações concretas que resultem, por exemplo, na aquisição de um piano de concertos para o Teatro Municipal Severino Cabral bem como na criação e manutenção da Orquestra Sinfônica de Campina Grande. E porque a cada dia encontramos mais parceiros, continuaremos trabalhando nessa direção, ampliando a presença do Festival Internacional de Música de Campina Grande em diferentes áreas do estado, incluindo o Cariri, o Sertão, o Brejo e o Agreste, contemplando cidades como Sumé, Monteiro, Patos, Pombal, Sousa, Cajazeiras, Pocinhos, Remígio e Cuité.

Num ano de crise generalizada, com vários festivais ameaçados no país, nós sobrevivemos. O cenário exigiu uma dose extra de coragem e ousadia, servindo para reiterar o compromisso da UFCG, da UEPB e do PaqTcPB no campo artístico-musical. As parcerias, motivo de alegria e gratidão, foram fundamentais. Agimos no campo do possível, mantendo o mesmo padrão de qualidade, movidos pelo espírito arrojado e empreendedor dos pioneiros da Serra, certos da perenidade deste projeto. Inspirados nos versos do poema Go Back, de Torquato Neto, nós só queríamos saber do que poderia dar certo, pois não tínhamos tempo a perder. E assim foi.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Merci, mes amis.

Considero que foi extremamente positiva a turnê do Coro de Câmara de Campina Grande. Tudo aquilo que planejamos foi realizado com êxito. A imersão em um novo contexto permitiu a vivência de diferentes aspectos, que, certamente, farão toda a diferença nos campos profissional e pessoal de todos aqueles que participaram desta iniciativa. Um dos aspectos importantes da viagem foi a liderança compartilhada. Quatro membros do coro foram designados para coordenar os dois grupos de cantores que viajaram em dias, horários e companhias aéreas diferentes. A missão, bastante complexa, foi cumprida exemplarmente.

Ao entrarem em contato com outra realidade musical, nossos alunos se auto-avaliaram, concluindo que, sob a perspectiva técnica e artística, estão no caminho certo. Eles perceberam, contudo, que ainda é preciso investir muito na infraestrutura das nossas instituições, sobretudo no que diz respeito à aquisição de instrumentos, partituras, dentre outros equipamentos básicos. Nas cidades visitadas, os integrantes do coro observaram como se dá a organização do espaço urbano, como funcionam os serviços públicos e privados, o exercício da cidadania, fato que estimulou a reflexão crítica sobre a realidade brasileira.

Creio que é impossível voltar de uma experiência dessas do mesmo modo, pois o contato com o outro, com aquilo que é diferente, se projeta na nossa autoimagem e também na forma como percebemos o mundo. E isso estava refletido em muitos rostos, em tantos discursos, nos diferentes gestos dos meus cantores, gente que descobriu que é possível se reinventar, alterar as trajetórias, reescrever a própria história, ratificando, em termos poéticos, aquilo que José Roberto Torero, no romance Xadrez, truco e outras guerras, já havia preconizado: “se nós nos contentamos em ser como somos, nunca seremos aquilo que poderíamos ser.” É preciso, portanto, criar possibilidades, dar oportunidades. E esse é o objetivo de toda e qualquer ação educativa.

Esse processo transformador só foi possível porque contamos com a ajuda de parceiros sensíveis, que não mediram esforços para concretizá-lo. É por isso, então, que eu gostaria de agradecer ao Coro de Câmara de Campina Grande. Sem a confiança, dedicação, disposição, disciplina e trabalho árduo de todos vocês nada teria sido possível. Sou grato às instituições e às diversas pessoas que se engajaram de forma direta e indireta, mostrando caminhos, apontando soluções, especialmente quando tudo, muitas vezes, parecia inviável. Finalmente, meu reconhecimento à professora Julie Cássia Cavalcante e ao professor Olivier Petit, que, de forma tão gentil, nos acolheram naquele país, fazendo-nos sentir em casa. Sem a participação das prefeituras de Olivet e Gien, bem como das famílias anfitriãs, essa experiência não teria o mesmo sentido, a mesma relevância. Por isso, novamente, repito a frase que tantas vezes ouvimos em território francês: merci, mes amis!

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

É clichê, eu sei, mas é verdade.

Depois de Olivet, o Coro de Câmara de Campina Grande seguiu para Gien, cidade com cerca de quinze mil habitantes. Ambas ficam na região do Vallée de la Loire, onde estão localizados suntuosos castelos. A estrada entre as duas comunidades é plana e colorida, especialmente nos dias em que a natureza mostra toda a sua exuberância. Apenas uma imponente usina nuclear, localizada nos arredores de Gien, faz contraponto com a paisagem campestre.

Quando chegamos na Église de Jeanne d’Arc, totalmente reconstruída após a Segunda Guerra Mundial, o sol começava a se por. A luz que passava por entre os vitrais refletia nas paredes, criando um ambiente avermelhado, acolhedor. Era domingo e o público não tardou a chegar, dando sinais de que a igreja ficaria lotada naquele anoitecer. Em pouco tempo, os mais de seiscentos programas que preparamos para a turnê haviam se esgotado. Toda a primeira parte do concerto foi dedicada à música sacra. Nosso programa realçou as conexões entre a França e o Brasil por meio das composições de Reginaldo Carvalho, Amaral Vieira e Maurice Duruflé. Finalizamos com uma sequência de spirituals e gospels, obras nas quais Paulo César Vitor mostrou toda a sua habilidade e competência. A atmosfera era contemplativa, mística. Pedro Furtado me disse que foi tomado pela emoção e não conseguiu cantar The Lord Is My Shepherd, de Allen Pote, porque lembrou-se de Carlos Lima, um amigo em comum que também era apaixonado por esta música.

As manifestações de apreço foram intensas ao longo do concerto. No intervalo, enquanto fazíamos a preparação para a interpretação da Messe en Sol, de Franz Schubert, o público fez pequenas ofertas em reconhecimento ao nosso trabalho. Ao término, fomos calorosamente aplaudidos por cerca de dez minutos. Repetimos o Gloria. A alegria novamente se fez presente e nos seguiu até o final da recepção, quando fomos saudados pelo prefeito de Gien e integrantes da administração local. Outra vez, ouvimos promessas de reencontro e continuidade do projeto.

Todos mereciam um prêmio pela brilhante atuação. Por isso, logo cedo, naquela fria segunda-feira, uma parte do grupo partiu para Paris. Os outros iriam no dia seguinte. Enquanto o trem desparecia lentamente na névoa rarefeita, embaçando temporariamente nossos gestos e olhares, corremos para visitar a Faïencerie de Gien, que produz utensílios e objetos em cerâmica de modo artesanal há mais de dois séculos. Depois, vimos castelos, pontes e ruas, tentando estabelecer relações entre passado e presente. À noite, eu, Paulo César Vitor e Julie Cássia Cavalcante apresentamos um recital-palestra sobre a canção de câmara brasileira. Finalmente, agradeci por tudo e, recorrendo ao Pequeno Príncipe, disse: “nós nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.” É clichê, eu sei, mas é verdade.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

En avant, tous!

O Coro de Câmara de Campina Grande começou a sua turnê na França pela cidade de Olivet, localizada na região central, nos arredores de Orléans, lugar onde Jeanne d’Arc deu os primeiros passos para o processo de libertação daquele país. Em Olivet, o grupo ficou hospedado em várias residências, tendo a oportunidade de vivenciar in loco os múltiplos aspectos da cultura francesa.

No dia seguinte à nossa chegada, a animação era grande. Os cantores falavam sobre a arquitetura e a decoração das casas, os jardins floridos anunciando a chegada da primavera e, é claro, as maravilhas da cozinha francesa. Todos queriam contar o que haviam saboreado, descrever em detalhes o ritual das refeições e suas múltiplas etapas. Tal como nosso repertório, o cardápio era rico e incluía aperitivos, vinhos, pães, queijos e chocolates.

Nosso primeiro contato musical aconteceu no Conservatório. Para aproximar os dois grupos de alunos, desenvolvemos várias atividades. Inicialmente, trabalhamos conjuntamente La Marseillaise e o Hino Nacional Brasileiro, porque iríamos apresentá-los na cerimônia de encerramento. Depois, seguimos para a Église Saint Martin, onde ensaiamos a Messe en Sol, de Franz Schubert. Fundamentalmente, a orquestra e o coro eram formados por alunos e professores do Conservatoire de Rayonnement Communal d’Olivet
e da École Municipale de Musique de Gien, bem como músicos convidados, a exemplo de Damien Colcomb, famoso organista da região. Nosso som encheu de vida aquele templo de paredes grossas e frias, colunas altas e acinzentadas, marcadas pela ação dos séculos. No dia seguinte, no Espaces Desfriches, na Biblioteca Municipal, cantamos para o seleto público que assina a série de concertos Heures Musicales. A plateia interagiu conosco. Ao final do concerto, fomos recebidos pelo prefeito de Olivet e demais autoridades ligadas à arte e à cultura. As crianças anfitriãs, vestidas com as camisetas do Coro de Câmara de Campina Grande, nos homenagearam com mensagens em francês, inglês e português. Logo depois, deixaram o ambiente e foram brincar no jardim. Pela larga janela de vidro no fundo da sala, vi que Sofia e Vinicius também estavam inseridos naquele mundo sem barreiras.

A importância do intercâmbio e a necessidade de continuá-lo foi a tônica nos discursos ao longo da cerimônia. Por isso, não hesitei e convidei-os para conhecerem o Brasil, o Nordeste, a Paraíba e a Rainha da Borborema. Eufóricos, brindamos com champagne. Aos poucos nos contagiamos com a alegria que a música faz brotar nos corações. E logo nos tornamos cúmplices no canto e no riso. Terminada a cerimônia, nos reunimos em diferentes casas para continuar a celebração. E tudo isso, é claro, foi acompanhado de muito vinho, pães, foie gras, cassoulet, fromage, chocolat, samba, coco, forró e quadrilha. En avant, tous!

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

domingo, 5 de abril de 2015

Paris, primavera, páscoa e paixão

Minhas conexões com a França remontam à época na qual iniciei os estudos musicais, participando do quarteto de flautas doces do Departamento de Artes da Universidade Federal da Paraíba, campus Campina Grande, na companhia de Carlos Alan, Marconi Siqueira e Francisco Metri. Com este grupo, interpretei obras compiladas por Pierre Phalèse e Pierre Attaignant. A simplicidade daquelas danças me fascinava. Nesse momento, também comecei a frequentar a Cultura Francesa.

Ao ingressar no FACMADRIGAL, o encanto se acentuou. Sérgio Telles, nosso maestro, herdara de Nelson Mathias e Célia Bretanha, com quem havia trabalhado no Coral da UPFB entre 1978 e 1982, a leveza e a sonoridade da escola francesa. Contaminado, dediquei-me durante dez anos à interpretação da música renascentista, abordando, particularmente, a chanson française, com o Nós e Voz. Nos divertimos com as narrativas dúbias de Sermisy, Certon e Passereau e com as desafiadoras canções descritivas de Janequin, a serviço da corte do Rei Francisco Primeiro. Em 1996, descobri que a ópera estava ao meu alcance. Foi Jasmin Martorell, esse catalão-francês que conheci em Olinda, quem me fez esta revelação. Aliás, foi por intermédio dele que as portas do Conservatoire de Toulouse se abriram para a minha temporada naquela cidade avermelhada, onde passei seis meses estudando canto, sob sua orientação, em 1998. Na ocasião, conheci o Valle de La Loire e visitei o castelo de Chambord, decorado com salamandras, fleur de lis e tantos outros símbolos da realeza. A riqueza dos detalhes arquitetônicos me fazia pensar contrapontisticamente. Toulouse, Orléans e Paris fizeram parte da minha rota naquele final de década. Posteriormente, em 2002, voltaria à Paris, como membro do LSU A Cappella Choir, sob a direção do mestre Kenneth Fulton, para uma série de apresentações na Cathédral Notre Dame e na Église de la Madeleine.

Recentemente, pesquisando a obra de Reginaldo Carvalho, identifiquei seus laços afetivos e profissionais com a França. Além de morar e estudar aqui, casou-se com uma francesa. Andou por Marseille, Bordeaux, Aix-en-Provence e viveu o frenesi da Cidade Luz no auge entre os anos cinquenta e sessenta. Ontem, andando pelo Boulevard Saint-Germain, nos arredores da l’Opéra Garnier, sentei-me para tomar um café naquele reduto no qual se encontravam artistas, músicos, escritores e filósofos, dentre os quais, provavelmente, Olivier Messiaen, Paul Le Flem, Pierre Schaffer, Jean Piaget, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e Reginaldo Carvalho.

Nesta temporada na França, revejo o passado-presente, celebrando, ao mesmo tempo, o aniversário da minha esposa, do meu filho e também as nossas bodas. Aguardo, com enorme expectativa, a chegada do Coro de Câmara de Campina Grande, que está vindo para uma série de concertos nas cidades de Olivet e Gien, na região central. É abril. E Paris é primavera, páscoa, paixão.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

domingo, 22 de março de 2015

Trajetórias

À semelhança do ano passado, quando durante o carnaval estive na University of Central Oklahoma, este ano, atendendo ao convite da professora Sara Lynn Baird, fui para o Alabama, onde passei uma semana atuando como professor visitante na Auburn University. Lá, proferi palestras, realizei recital solo, regi o coro de câmara da instituição e falei sobre as ações que desenvolvemos em Campina Grande. A universidade possui mais de cem alunos matriculados nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Música, contando com variados grupos instrumentais e vocais, dentre os quais cinco coros, todos sob a coordenação dos professores William e Rosephayne Powell.

Nas minhas atividades, mostrei a diversidade da música brasileira e usei como referência Padre José Maurício Nunes Garcia, Camargo Guarnieri, Cartola, Luiz Gonzaga, dentre outros compositores. Estudantes e professores vibraram quando escutaram a versão de Marco Granados e Jovino Santos Neto para o clássico 1 X 0, de Pixinguinha (http://goo.gl/8wiwv9). No recital solo, no qual fui acompanhado pela pianista Laurelie Gheesling, cantei Alberto Nepomuceno, José Siqueira, Dierson Torres, Marlos Nobre, José Alberto Kaplan e Antônio Ribeiro, revelando as particularidades da nossa canção numa perspectiva histórica. No concerto com o Auburn University Chamber Choir, realizado na Igreja Batista local, regi As sete palavras da oração dominical, de Reginaldo Carvalho, o Salmo 121, de Eli-Eri Moura, e Cantate Domino, obra de minha autoria, dedicada ao referido grupo. Para ver os vídeos da estreia das duas últimas composições, basta seguir os links  http://goo.gl/ExEUtd e http://goo.gl/K9kYWq.

Naquele curto período, também tive a oportunidade de viajar até Starkville. Queria encontrar velhos amigos na Mississippi State University, dentre os quais Gary Packwood, Jeonai Nascimento, Karen Lee Murphy e Rosangela Sebba. Conhecer o compositor Mark Hayes foi, indiscutivelmente, um momento singular da minha rápida passagem pela MSU, sobretudo porque, após o jantar, tive a honra de cantar On Eagles Wings, uma das minhas canções preferidas, com ele me acompanhando ao piano. O encontro terminou em grande estilo, pois Mark Hayes aceitou nosso convite e confirmou a sua participação na sexta edição do Festival Internacional de Música de Campina Grande, que acontece de 13 a 18 de julho deste ano. Além dele, vamos receber três professores da Auburn University que irão lecionar Clarineta, Regência Coral, Piano e Técnica de Alexander.

Pernoitei no Mississippi. E quando amanheceu, acordei revigorado e parti com os sonhos que sempre carrego comigo. No caminho de volta para o Alabama, a estrada era longa, mas as distâncias eram curtas; fazia frio, mas havia sol; a terra estava seca, mas a vida era latente; as horas passavam lentamente, mas o tempo voava; o silêncio invadia o carro, mas eu ouvia meus pensamentos; o satélite insistia em definir a rota, mas eu já sabia a minha trajetória.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)