domingo, 9 de outubro de 2011

Canto do povo de um lugar

O Painel FUNARTE de Regência Coral realizado em Vassouras, Rio de Janeiro, teve como parceiro o Programa de Integração pela Música (www.pim-org.com), contando com a participação de vários alunos de diversas cidades daquela região fluminense, bem como de outros estados, dentre os quais Minas Gerais e Paraíba. Ao meu lado, na equipe docente, estavam Gisele Cruz e Mário César, ambos de São Paulo. Juntos, trabalhamos sob a liderança da professora Maria José Queiroz, a grande gestora e também defensora deste importante projeto.

Como em todos os outros Painéis, recebemos alunos e profissionais da área de música, engajados em diferentes contextos, assim como pessoas sem nenhuma experiência. Abordamos conteúdos variados, sempre numa perspectiva pragmática, incluindo técnica vocal, cuidados com a voz, seleção de repertório, gestual para a regência, classificação vocal e organização e metodologia do ensaio. Um ponto recorrente nas nossas discussões foram os aspectos sociais, educacionais e artísticos da prática coral, sobretudo em virtude da Lei 11.769/2008, que trata da obrigatoriedade do ensino de música em todos os níveis da educação básica.

As canções brasileiras, portuguesas e africanas que interpretamos naquela semana exploraram vários aspectos do fazer musical, ressaltando, ao mesmo tempo, a estreita relação entre corpo, movimento e som, assim como os laços entre música e história, tão bem preservados no patrimônio arquitetônico e na memória daquela cidade, outrora chamada Princesinha do Café e Cidade dos Barões. Tivemos a oportunidade de cantar a cappella e com acompanhamento, em uníssono e polifonicamente. Usamos percussão corporal para criar efeitos e ressaltar os elementos expressivos do texto musical e poético. Compomos coletivamente, usando como base a escala pentatônica e os sons e ruídos do ambiente. Assim, brincamos com o passado e o presente; com o uivo do vento, que se move nas entranhas das serras; com o chiado das vassouras de palha, que limparam o assoalho daquelas ruas estreitas por onde escravos e nobres caminharam; com o apito da velha Maria Fumaça, subindo e descendo ladeiras, transportando a riqueza dos cafezais; com o badalar dos sinos da imponente igreja matriz, rodeada por centenárias palmeiras imperiais, no alto do morro, no coração da cidade.

Conforme decidimos no primeiro semestre, na reunião de planejamento com toda a equipe, registramos os encontros, os ensaios, o processo criativo e os depoimentos dos participantes. Este material será utilizado na montagem de um Painel virtual, contendo as experiências realizadas em Campo Grande-MS, Vassouras-RJ e Quixadá-CE, e ficará à disposição do público no site da FUNARTE (www.funarte.gov.br/projetocoral). Nossa meta, com este trabalho, é retratar diferentes ambientes e paisagens sonoras, as múltiplas faces do canto coral brasileiro, o canto do povo de um lugar.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)