sábado, 17 de março de 2018

Messias

Messias, de G. F. Händel, é um dos oratórios mais cantados em todo o mundo. Muito embora concebido para a Páscoa, é também interpretado durante o Advento em serviços litúrgicos de diferentes igrejas cristãs, auditórios e teatros. Por conta da sua extensão, frequentemente apresentam-se excertos da obra, incluindo recitativos, árias e coros da primeira, segunda e terceira parte.

Referência na literatura do período barroco, a peça pode ser facilmente adaptada. Quando não há possibilidade de incluir solistas, faz-se uma seleção contemplando os movimentos para coro. Se, por outro lado, não há orquestra, é possível interpretá-la com um quarteto de cordas e contínuo ou até mesmo apenas com um piano. Com relação à orquestração, é importante observar as múltiplas versões existentes, algumas com traços mais românticos, que incluem vários instrumentos diferentes daqueles da proposta original. Na Internet existem muitas edições que apresentam divergências nos tons de algumas árias, bem como na estrutura rítmica de alguns corais. Para dirimir dúvidas, é preciso compará-las e consultar documentos históricos, assim como ouvir performances conduzidas por autoridades da área, dentre os quais Robert Shaw e Vàclav Lucs.

O oratório apresenta desafios, como, por exemplo, as coloraturas, que, às vezes, intimidam regentes e cantores, sobretudo em coros amadores. Inicialmente, é preciso compreender tais passagens ritmicamente. Como os melismas estão agrupados, deve-se enfatizar a primeira nota de cada grupo, destacando-se os tempos estruturais do compasso com o intuito de criar micro e macro tensão fraseológica. Como exercício, as passagens melismáticas podem ser decompostas, e as notas, uma a uma, acrescentadas gradualmente. Fundamental é reduzir a velocidade da execução para fins de aprendizagem e precisão. Outra possibilidade é pedir aos cantores com mais domínio técnico que executem as coloraturas com clareza, articulando as notas sem colocar um “h” aspirado antes de cada vogal, enquanto aqueles que têm mais dificuldade poderão cantar o mesmo trecho com as sílabas “do” da”. A pronúncia da consoante “d”, de forma delicada e discreta, ajudará na projeção da voz, na articulação, na manutenção do tempo, na definição dos afetos, isso tudo, é certo, sem desconsiderar o suporte respiratório e a ressonância. Estes são alguns dos recursos amplamente utilizados em muitos coros e que têm dado excelentes resultados, não obstante seja matéria controversa.

Nos próximos dias, interpretaremos passagens deste repertório de formação, patrimônio da humanidade, em Teresina e Campina Grande. A experiência, pioneira nas duas cidades, promoverá o intercâmbio entre músicos do Projeto Música Para Todos, IFPI, IFG, UFRN, UFPI e UFCG. Será, sem dúvidas, um marco em nossas trajetórias pessoais e profissionais, tanto pela relevância do desafio artístico-musical quanto pela mensagem do texto, que fala do Nascimento, Paixão e Redenção de Cristo, o Messias.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)