quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Regência e canto coral nos congressos da ANPPOM e da ABEM

Vários relatos de experiência e resultados de pesquisa em andamento ou já concluídas, na área da regência e do canto coral, foram apresentados nos congressos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música e da Associação Brasileira de Educação Musical realizados, respectivamente, ano passado. No caso específico da ABEM, coordenei, juntamente com as professoras Ana Lúcia Iara Gaborim Moreira (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e Susana Cecília Almeida Igayara de Souza (Universidade de São Paulo), o Grupo de Trabalho Especial — Canto Coral: ensino, pesquisas e práticas em diferentes concepções e contextos.

Conforme definido na chamada de trabalhos da ABEM, a proposta do GTE era “congregar educadores musicais, pesquisadores, estudantes e profissionais da área, na realização de estudos sobre a formação do regente e sobre processos de ensino-aprendizagem coral, abrangendo diversos temas relativos à técnica vocal, preparação de repertório, elementos técnicos e estéticos da performance, estratégias para ensaios, práticas alternativas, entre outros temas afins. Subentendem-se nesta proposta os mais distintos contextos em que a atividade coral se realiza, suas diferentes concepções e caracterizações, e consideram-se múltiplas possibilidades interpretativas.” Ao todo, recebemos mais de trinta propostas de comunicação que, de modo geral, tratavam sobre metodologias de ensaio, o papel do pianista e o uso do piano no ensaio, o ensino remoto de música e os coros virtuais. O foco também recaiu sobre repertório; questões de acústica e conforto vocal; a história do Madrigal da UFBA, um dos grupos profissionais mais antigos e em funcionamento em nosso país; a formação de performers em coros infantojuvenis; e o uso dos arranjos do maestro Samuel Kerr, que serão lançados em livro brevemente, como ferramentas de ensino da técnica de regência coral na graduação em música (lista de artigos).

No encontro da ANPPOM, falei sobre a música sacra de Reginaldo Carvalho. No da ABEM, apresentei, em conjunto com Mauro Albino Muhera, da Universidade Eduardo Mondlane, dois artigos que são os frutos parciais do estudo que estamos realizando no PPGM-UFPB e que contempla a música coral africana, mais particularmente aquela produzida em Maputo. Além de estudar as particularidades do repertório moçambicano, também estamos fazendo transcrições e elaborando arranjos que serão interpretados pelo Coro de Câmara de Campina Grande.

A comunidade participou ativamente, comentando e sugerindo, quando necessário. O diálogo entre profissionais com diferentes trajetórias e advindos de múltiplos espaços foi importante para aproximar a academia do mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, dar visibilidade ao que tem sido feito nesse diverso território. É nessa mesma perspectiva que a Nova Associação Brasileira de Regentes de Coros pretende dar continuidade aos debates, abordando questões urgentes da contemporaneidade por meio Fórum da ABRACO, acessível para os membros da instituição, assim como por intermédio de ações específicas, a exemplo dos simpósios e congressos.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

ABRACO

A Nova Associação Brasileira de Regentes de Coros iniciou, há pouco mais de uma semana, o processo de cadastramento e quitação da anuidade 2022. Conforme definido em seu Estatuto, pode associar-se “qualquer pessoa física, nacional ou estrangeira, no pleno gozo de seus direitos civis e políticos e que atenda ou tenha atendido a condição de ser ou ter sido regente de coro ou trabalhar ou ter trabalhado em área afim.” A ideia é incluir pianistas, preparadores (as) vocais, arranjadores (as) e compositores (as), na ativa ou aposentados (as).

A ABRACO nasceu com a missão de congregar aqueles (as) que trabalham nesse campo e colaborar com o desenvolvimento da regência e do canto coral. Para isso, pretende assinar acordos de cooperação técnica, publicar periódicos e partituras, bem como organizar congressos. Uma das metas da entidade é atuar ao lado de instituições que possam oferecer formação continuada, seja com cursos de capacitação de curta, média ou longa duração, seja no âmbito da pós-graduação. No site do órgão, o Fórum é um espaço permanente para troca de experiências e conhecimentos em tempo real. Ainda este ano, lançaremos uma revista que abordará temas relevantes e contemporâneos. O diálogo com o poder público também está na ordem do dia e será fundamental para a implementação de ações que permitam o incremento da atividade coral, uma das mais populares em nosso país. A aproximação com outras associações, a exemplo da Associação Brasileira de Educação Musical e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, será também relevante para a consolidação das nossas iniciativas. 

O processo de filiação é bem simples: 1) acesse o site e registre-se; 2) efetue o pagamento da anuidade; 3) confirmado, o usuário terá acesso a uma seção reservada, que tem sido atualizada constantemente. Caso tenha alguma dúvida, veja esse vídeo. Os (as) sócios (as) terão acesso à conteúdos e descontos exclusivos e estarão em contato com um rede de profissionais do Brasil e do mundo, pois a nossa corporação é uma das fundadoras da International Federation for Choral Directors Association (IFCDA), formada por representantes dos cinco continentes.

Filiar-se à Nova ABRC-ABRACO é, portanto, confiar na força do movimento coletivo organizado; é investir na proposição de políticas que favoreçam o crescimento e o reconhecimento da área e daqueles (as) que nela atuam; é estimular a expansão do mercado de trabalho, instigando a criação de novos empregos e carreiras; é colaborar com a difusão e a preservação da música coral brasileira, contemplando grupos, repertórios, maestros e maestras, compositores (as) e arranjadores (as); é acreditar, acima de tudo, no poder da arte e da educação para a construção de um mundo mais justo, humano, amoroso e polifônico. E aí, vamos abraçar a ABRACO?

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Leitura à primeira vista para cantores

Uma obra relevante quando o assunto é a aprendizagem do solfejo no contexto da prática coral é Building Choral Excellence: Teaching Sight-Singing in the Choral Rehearsal, de Steven M. Demorest (Oxford, 2001). O livro está organizado em três partes, assim distribuídas: 1) Por que ensinar a leitura à primeira vista?, 2) Como ensinar a leitura à primeira vista? e 3) Quais materiais estão disponíveis?.

A primeira seção trata da proposição de Lowell Mason, um dos primeiros a elaborar material didático para o ensino do solfejo nos Estados Unidos da América. Além desse tema, aborda a comercialização de tais produtos e o movimento a cappella nas escolas norte-americanas, destacando que o desenvolvimento da habilidade do solfejo está contido nos padrões nacionais para a educação artística (National Standards for Arts Education, 1994). Na segunda parte, Demorest compara os sistemas fixo e móvel, bem como as concepções de Kodály, Dalcroze e Gordon, apontando as semelhanças entre as propostas do educador húngaro e aquelas do norte-americano, pois ambos acreditavam que os músicos deveriam, antes de qualquer performance, compreender e experimentar a música internamente, por meio de um processo mental denominado de audiação”. Para exemplificar, o autor elabora planos de aulas que incluem a etapa pré-notacional, a compreensão dos elementos da partitura, a entoação de melodias nos modos maior e menor, a uma e mais partes, bem como jogos. O solfejo e sua conexão com o repertório é abordado, assim como diferentes formas e estratégias para avaliação do nível de aptidão dos coralistas, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo. A terceira seção analisa uma ampla gama de materiais que podem ser usados por coros com diferentes níveis. Esse inventário abrange os corais de J. S. Bach e outros livros elaborados com finalidades pedagógicas e que contêm exercícios específicos com graus de dificuldade variados.

Steven Demorest  (1959-2019) foi educador musical, regente e pesquisador, tendo atuado em várias instituições nos EUA. Seu tratado, Construindo a Excelência Coral: ensinando leitura à primeira vista no ensaio coral, ainda não traduzido, é um livro fundamental para quem deseja ampliar os conhecimentos na área da metodologia do ensaio, psicologia e neurociência cognitiva da música, campos nos quais o referido professor era especialista e deixou vasta contribuição teórico-prática.

Muito embora tenha sido escrito há duas décadas e alguns dados encontrem-se desatualizados, esse é um texto enriquecedor, que nos convida à reflexão, que nos faz pensar sobre as numerosas facetas do nosso cotidiano profissional. Para quem deseja ampliar o campo de atuação, essa é uma leitura obrigatória, que fará grande diferença para o (a) regente, sobretudo no que diz respeito aos aspectos educativos da atividade coral. É, portanto, um excelente investimento para aqueles (as) que, de fato, desejam um novo início de ano/vida.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)