terça-feira, 6 de novembro de 2018

O Canto Coral na Paraíba: Eli-Eri Moura

Eli-Eri Moura, natural de Campina Grande, é pesquisador, professor, pianista, regente e compositor. Durante muitos anos, inicialmente como funcionário e posteriormente como docente da UFPB, em João Pessoa, atuou como diretor do Grupo Ânima e do Coral Universitário da Paraíba “Gazzi de Sá”, exercendo papel relevante no estado.

Com o Ânima, dedicou-se à música antiga, à montagem de renascenças, que eram interpretadas por vozes e um consorte de flautas e percussão. Nos programas, destaque para a música de tradição ibérica, os cancioneiros de Upsala e Palacio. Com esse ensemble, apresentou espetáculos originais, que incluíam encenação. Os integrantes do conjunto eram escolhidos criteriosamente, tinham larga experiência e, em alguns casos, estavam vinculados ao movimento teatral, a exemplo de Tião Braga, Elton Veloso e Melânia Silveira, que também participaram de vários espetáculos produzidos por ele e W. J. Solha. O Coral Universitário da Paraíba, por sua vez, cantava o repertório tradicional, música popular brasileira, além de trabalhos inéditos. Com liderança, carisma e muita competência, Eli-Eri atraiu a comunidade acadêmica, expandiu as atividades do Gazzi de Sá, que, por conta do grande número de interessados, foi dividido em CORALUP I e II. Como regente assistente desses grupos, e sob a orientação do maestro, participei de vários eventos artísticos-culturais no estado e região, encontro e festivais de coros, no Brasil e no exterior, dentre os quais o IX Encuentro Coral de Ateneo del IES, na Argentina, cuja aventura narro na crônica Mas o meu pires é de porcelana.

Eli-Eri Moura é um compositor de técnica apurada e gosto refinado, que se identifica com o canto, razão pela qual sua escrita vocal é intensa, generosa, boa de se interpretar. Muitas das suas peças são leves, a exemplo do ciclo Respingos, baseado numa seleção de poemas do irreverente Paulo Leminsky. Outras são mais dramáticas, como o Réquiem Contestado Os Indispensáveis, para solistas, coro misto, banda de rock e orquestra sinfônica. Réquiem para um trombone, escrito em homenagem a Radegundis Feitosa, é lírico, dolente, repleto de poesia. Há também aquelas mais engajadas, com forte caráter político, como o Credo Explícito e a Missa Breve, esta última para tenor, coro e quarteto de madeiras. O Salmo 150, assinado sob o pseudônimo de Paulo Vinicius, e os arranjos de Sete cantigas para voar e Cio da Terra são construções delicadas e preciosas.

Minha conexão com Eli-Eri Moura vem de longas datas, tanto na sala de aula/ensaio quanto no palco, na realização de vários projetos. Ao longo desta convivência, aprendi e cresci muito. Atualmente, ele dirige o Iamaká, uma camerata formada por cantores e instrumentistas que tem se dedicado à interpretação da música seiscentista e contemporânea. Suas obras ocupam lugar de destaque na literatura coral brasileira e estão, indiscutivelmente, entre as minhas preferidas.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)