terça-feira, 31 de dezembro de 2019

As Clarissas de Campina Grande

Hoje teve início o ano jubilar da congregação de Santa Clara em nossa cidade. Inspirado por Frei Tadeu Prost (OFM), e com o apoio do primeiro bispo da recém-criada Diocese de Campina Grande, Dom Anselmo Pietrulla (OFM), o Mosteiro foi instituído há setenta anos. As fundadoras eram norte-americanas (Cleveland, Ohio). Desde os primeiros contatos nos Estados Unidos até a efetivação do projeto, passando pelo seu planejamento, a arrecadação de recursos, a construção e a ocupação das instalações, que só ocorreu no dia 31 de dezembro de 1950, muitos se empenharam para o sucesso desta missão.

A casa religiosa, muito embora esteja localizada no coração da Rainha da Borborema, ao lado do Parque Evaldo Cruz, área bastante movimentada, é um local silencioso, propício à meditação e que abriga cerca de vinte e nove monjas enclausuradas, que vivem em espírito contemplativo e se dedicam quase que exclusivamente à oração. Diariamente, celebram-se missas sempre às seis da manhã. Além disso, ao longo do dia, as irmãs observam criteriosamente as Horas Canônicas. Nesse rito secular, o canto destaca-se. Aliás, a música é parte essencial daquela abadia.

A capela central, que comporta aproximadamente quatrocentas pessoas, é naturalmente iluminada. A luz, quando atravessa os coloridos vitrais, produz um efeito difuso, em tons delicados, sobretudo antes do crepúsculo. Acusticamente, o lugar é excepcional, o som se propaga facilmente, sem esforço, na medida certa. A madeira no teto torna o ambiente ainda mais acolhedor. O templo é ideal para conjuntos de câmara. Foi durante uma turnê do Madrigal da UFPI e do Coro Feminino da UFPI, em 2008, que passamos a utilizar este espaço sagrado. Depois, realizamos o Concerto para o Advento, o Concerto da Paixão, bem como aqueles ligados ao Festival Internacional de Música de Campina Grande. Por ali já passaram artistas como o cravista Edmundo Hora, a soprano estadunidense Kathy Price, o grupo de flautas-doce Quinta Essentia, o Quaternaglia Guitar Quartet, os coros Gesang ohne Grenzen (Suíça) e Loiret's Singers (França), dentre outros.

A comunidade de religiosas, incluindo as noviças e as que já fizeram votos temporários e perpétuos, participa ativamente de todas as celebrações, que são acompanhadas por instrumentos variados, como o piano/órgão digital, violão, flauta doce e, eventualmente, percussão. O repertório também é múltiplo e abarca tanto o tradicional, advindo do Liber Usualis e outras fontes históricas da Igreja Católica, quanto aquele produzido por artistas, padres, freiras e bandas contemporâneas. Para continuar o diálogo entre tradição e modernidade, e também marcar outra década de existência, as Clarissas de Campina Grande pretendem gravar um CD com obras autorais. As composições já estão prontas e os ensaios já começaram. Estamos à procura de parceiros, benfeitores. Agora, é só ajudar e esperar.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

domingo, 29 de dezembro de 2019

A mágica da música

Este foi um ano intenso e de muitas estreias para o Coro de Câmara de Campina Grande (CCCG). Iniciamos a temporada com duas composições de Danilo Guanais. A primeira foi Domingo de Ramos, um conjunto de motetos sobre a paixão, morte e ressurreição de Cristo, para narrador e coro a cappella. Interpretamos esse ciclo em Portugal, antes da Semana Santa, no Festival de Ramos, com o Vox Laci, grupo anfitrião. A Cachoeira de Paulo Afonso veio em seguida. Composta para solistas, quinteto de cordas e piano, a peça tem várias seções que exploram diferentes afetos do poema de Castro Alves. Um ensemble internacional, formado pelo CCCG, o coral Gesang ohne Grenzen, o pianista Daniel Seixas e um quinteto de cordas com alunos da Universidade de Évora, participou da première.

Do compositor Eli-Eri Moura, montamos o Requiem dos Oprimidos e o Requiem Contestado. No primeiro, escrito em virtude do centenário de Jackson do Pandeiro e cuja estreia aconteceu no X Festival Internacional de Música de Campina Grande, dividimos o palco com o Iamaká. Nesse réquiem irreverente, o autor combina os textos canônicos das exéquias com passagens bíblicas que falam sobre a opressão, mantendo estreita correlação com a filosofia freiriana, sobretudo aquela contida na Pedagogia do Oprimido. Por outro lado, no Requiem Contestadocujo texto é de W. J. Solha e que não era interpretado desde a sua primeira performance, em 1993, os integrantes do CCCG participaram de diversas etapas do processo, ora editando os manuscritos, ora atuando como solistas, ao lado da Orquestra Sinfônica da UFPB.

Por conta dos dez anos da Licenciatura e do Bacharelado em Música da UFCG, apresentamos a Missa Diligite, de Camargo Guarnieri, com os alunos das referidas graduações e a Orquestra de Câmara da nossa instituição. Na mesma noite, estreamos o Credo, de Luís Passos, que, muito embora seja uma obra independente, igualmente serviu para completar o ordinário da referida missa.

Nesta temporada, realizamos quinze concertos em dez meses de trabalho, no exterior e no Brasil. Em Óbidos, Beja, Cascais e Lisboa, nos apresentamos em diferentes igrejas, no Palácio Foz e no Museu Nacional da Música. Aqui, cantamos em casa, no XI Virtuosi (Gravatá-PE), no XVI Festival Paraibano de Coros (João Pessoa-PB), no lançamento do The New Armorial Music Project (Natal-RN) e na Sala Radegundis Feitosa, na capital do estado. Além do repertório inédito e do intercâmbio com o grupo suíço, (re)encontramos o Loiret's Singers (França), resgatamos a Missa de Alcaçus e iniciamos as celebrações em torno dos 250 anos de nascimento de Beethoven com a sua Fantasia CoralEm 2020, o CCCG comemorará seu décimo aniversário. Neste tempo jubilar, realizaremos projetos variados e reafirmaremos nossas crenças, certos de que “quando a mágica da música reina e as palavras sagradas são ditas, o glorioso deve ser concebido, noite e tempestade se tornam luz.”

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)