sexta-feira, 30 de maio de 2014

Cantata pra Alagamar

A Cantata pra Alagamar, com texto de W. J. Solha e música de José Alberto Kaplan, é uma obra para solistas, atores, coro misto e orquestra de câmara, escrita em 1979, tendo como tema o conflito ocorrido na Fazenda Alagamar, localizada entre os municípios de Salgado de São Félix e Itabaiana, na Paraíba. A estreia aconteceu em junho daquele ano e obteve ampla aceitação do público e da crítica. A primeira gravação (http://goo.gl/KjkuDZ), realizada no mesmo período, foi regida pelo compositor.

José Alberto Kaplan dialoga com as formas setecentistas, mantendo-se, ao mesmo tempo, em sintonia com a modernidade. Na Cantata pra Alagamar, o tenor exerce o papel do evangelista, ligando seções, comentando o texto, refletindo sobre suas entrelinhas, rica em conotações políticas. Com melodias nos modos lídio-mixolídio e amparado harmonicamente pelo cravo, o tenor é simultaneamente profeta, cantador, repentista, aboiador, revelando as conexões do compositor com a música de tradição oral do Nordeste. O coco, o baião, o triângulo e a zabumba, empregados em momentos estratégicos da narrativa, reiteram estes vínculos culturais. Os âmbitos vocais são cômodos, tanto para os solistas quanto para o coro, e a formação camerística, com poucos instrumentos, torna a obra acessível. A confluência de elementos universais e regionais, velhos e novos, potencializa os conflitos entre tradição e ruptura, ditadura e liberdade, tão acentuados na sociedade brasileira daquela época.

Participei da quinta série dos Concertos SESC Partituras, quando ocorreu o lançamento da edição revisada da Cantata. Antes do início do concerto, o maestro Carlos Anísio leu uma mensagem de Dom José Maria Pires, Arcebispo da Emérito da Paraíba, e que à época participou do projeto: “A Cantata é uma obra de arte realizada com coragem e muito amor. Coragem porque vivíamos, então, o tempo da Ditadura e qualquer manifestação pública estava sujeita à censura, de modo que a Cantata só pôde ser apresentada porque, para isso, foi cedida uma de nossas igrejas. A Cantata foi não só obra de coragem, mas sobretudo expressão de amor, um amor que ultrapassa fronteiras ideológicas e religiosas. A realização da Cantata só foi possível graças a um trio composto por um judeu, um ateu e um bispo. Num tempo de tanta violência, a Cantata vem proclamar que todos devemos lutar para que, respeitada a liberdade de pensamento de cada um, busquemos juntos transformar em convergências nossas divergências, contribuindo assim para que o mundo vá deixando de ser um vale de lágrimas e vá se aproximando da visão bíblica de um paraíso.”

A Cantata pra Alagamar é uma obra representativa da literatura coral brasileira e a partitura completa está disponível gratuitamente no site do SESC (http://goo.gl/cYyXJu), podendo, desta forma, ser interpretada por nossos grupos vocais e instrumentais.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)  

sábado, 24 de maio de 2014

Bancos de partituras na internet

A internet é uma ferramenta de grande utilidade no trabalho de preparação do regente coral, sobretudo no que diz respeito à pesquisa e à aquisição de repertório. Vários são os portais que têm divulgado, gratuita e legalmente, a literatura originalmente escrita para coro a cappella ou com acompanhamento. O Choral Public Domain Library (www.cpdl.org) e o IMSLP Petrucci Music Library (www.imslp.org), por exemplo, já são bem conhecidos no meio acadêmico. Com relação à música coral brasileira, quatro projetos têm se destacado nesta área: Musica Brasilis, Museu da Música de Mariana, Projeto Coral e SESC Partituras.

O Musica Brasilis (www.musicabrasilis.org.br) se dedica à difusão do repertório de diferentes épocas, estilos e autores. Além das partituras, no portal é possível encontrar áudios, vídeos e o recurso da escuta guiada, que apresenta informações importantes sobre as obras, tanto do ponto de vista estrutural quanto formal. Essa associação audiovisual colabora no processo de compreensão das peças. A FUNARTE também tem disponibilizado, por meio da plataforma Projeto Coral (www.funarte.gov.br/projetocoral/), obras para vozes afins e mistas, incluindo as coleções Música Nova do Brasil para Coro A Cappella e Arranjos Corais de Música Folclórica Brasileira, ambas publicadas nas décadas de setenta e oitenta. A produção mais recente da instituição, na qual se inserem as onze canções para coro juvenil (2009) e as oito canções para coro infantil (2010), também podem ser obtidas no site.

O Museu da Música de Mariana (www.mmmariana.com.br/abertura.htm), voltado para a pesquisa do repertório desde os tempos do Brasil Colônia, oferece, na seção Restauração e Difusão de Partituras, relevante patrimônio, destacando-se os seguintes projetos temáticos: Pentecostes, Missa e Sábado Santo (2001); Conceição e Assunção de Nossa Senhora, Natal e Quinta-Feira Santa (2002); Devocionário Popular dos Santos, Ladainha de Nossa Senhora e Música Fúnebre (2003). Todas as obras editadas estão também disponíveis em CDs, que foram gravados por ícones do canto coral no país, dentre os quais Naomi Munakata e Orquestra Engenho Barroco; Júlio Moretzsohn e o Grupo Calíope; Carlos Alberto Pinto Fonseca, Ars Nova Coral da UFMG e músicos convidados. O Projeto SESC Partituras (www.sesc.com.br/SescPartituras/) contém o trabalho de vários compositores, abrangendo música de câmara, sinfônica, coral e para solistas. Dentre os nomes já inseridos neste banco de dados estão os de Guerra-Peixe e Alberto Nepomuceno, cujos centenário e sequiscentenário, respectivamente, estamos comemorando este ano.

As iniciativas do Musica Brasilis, da FUNARTE, do Museu da Música de Mariana, do SESC Partituras e muitas outras não incluídas nesta lista preenchem uma lacuna importante no mercado editorial, contribuindo para a preservação da música coral brasileira, ampliando as possibilidades de escolha de repertório, promovendo o trabalho de compositores de diferentes épocas, estilos e regiões do país.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

terça-feira, 20 de maio de 2014

O Festival do Sesquicentenário

O recital do duo Malu Mestrinho (mezzo-soprano) e Marcelo Fernandes (violão), realizado no último dia 15 de maio no auditório da Unidade Acadêmica de Arte e Mídia, da Universidade Federal de Campina Grande, marcou o lançamento do V Festival Internacional de Música de Campina Grande, que acontece entre os dias 21 e 26 de julho.

Como nas edições anteriores, este ano o Festival recebe convidados do Brasil, dos Estados Unidos e da França, artistas e grupos renomados, incluindo o duo Mestrinho-Fernandes, o Quinta Essentia Quarteto de Flautas, o University of Central Oklahoma Chamber Choir, o Quinteto de Metais do Conservatório de Tatuí e a Orquestra Sinfônica da UFRN. A soprano Julie Cassie (França) apresentará um recital temático com canções francesas, enquanto o barítono Robert Glaubitz (EUA) interpretará árias de óperas. O clarinetista Joel Barbosa vem falar sobre o ensino de música nas bandas, apresentando aos alunos seu famoso método Da Capo. A programação homenageará o sesquicentenário de Campina Grande e os compositores Alberto Nepomuceno (1864-1920) e César Guerra-Peixe (1914-1993). O Prêmio Radegundis Feitosa será outorgado a José Antônio Rezende de Almeida Prado (1943-2010) por sua contribuição à música brasileira. Para recebê-lo, convidamos a pianista Helenice Audi e a violinista Constanza Moreno, respectivamente, a viúva e a filha do homenageado. Na programação dos cursos, que são abertos aos estudantes de música e profissionais, duas novidades: Teatro Musical, que será ministrado pela norte-americana Jena Nelson, e Introdução à Regência Orquestral, ministrado pelo baiano José Maurício Valle Brandão.

O Festival acolherá alunos de várias regiões e do exterior, a exemplo dos estudantes da University of Central Oklahoma, que vêm pela primeira vez ao Brasil com o objetivo de participar das aulas e concertos que serão realizados em Campina Grande (no Teatro Municipal, no Mosteiro Santa Clara e na Primeira Igreja Batista) e nas cidades de Patos e Remígio. Na abertura do evento ocorrerá a estreia da Paixão Segundo Alcaçus, do compositor Danilo Guanais, obra para solistas, coro e orquestra,  que será interpretada pelos convidados do Festival e a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a regência do maestro André Muniz Oliveira.

Novamente, graças ao trabalho conjunto de diversas instituições públicas e privadas, Campina Grande se transformará, no mês de julho, no centro musical da Paraíba e do Nordeste. Para saber mais sobre o Festival, que se insere no calendário de comemorações do sesquicentenário da Rainha da Borborema, acessem nossa página na internet (www.fimus.art.br) e nas redes sociais. Sintam-se, portanto, convidados e sejam todos bem-vindos ao V Festival Internacional de Música de Campina Grande.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)