sábado, 23 de novembro de 2013

Teatro Municipal Severino Cabral - 50 anos

Esta semana Campina Grande está em festa por conta dos cinquenta anos do Teatro Municipal. A programação comemorativa inclui espetáculos de música, teatro, dança, eventos literários e vernissages. Este templo da arte e da cultura, arquitetado por Geraldino Pereira Duda, foi construído na administração do prefeito Severino Bezerra Cabral, um gestor que se notabilizou por seu espírito empreendedor.

O projeto inseriu Campina Grande no roteiro de importantes companhias e artistas, colocando a Rainha da Borborema em sintonia com as produções contemporâneas de diversas partes do Brasil e do mundo. Foi ali, no Teatro Municipal Severino Cabral, no início dos anos oitenta, que comecei meus estudos musicais, no Departamento de Artes, do Campus II, da Universidade Federal de Campina Grande. Minhas primeiras aulas de Flauta Doce, com o professor Carlos Alan, aconteciam no quinto andar. A Oficina de Música, sob a coordenação de Fernando Barbosa, funcionava no térreo, ao lado do Paulo Pontes, onde eram realizados os ensaios dos grupos de câmara, conduzidos por Luceni Caetano. Foi também no palco do Severino Cabral que me apresentei cantando no tenor do FACMADRIGAL, sob a direção de Sérgio Telles, e do Coro em Canto, regido por Fernando Rangel.

Ao longo destes anos, participei de vários eventos naquela casa: os Congressos de Teoria e Crítica Literárias, os Festivais de Inverno, os Festivais de Coros da Fundação Artístico-Cultural Manuel Bandeira e o primeiro Encontro para a Nova Consciência, cujo vídeo com a apresentação do Grupo Vocal Nós e Voz, àquela época cantando obras da Renascença, encontrei, recentemente, no site Retalhos Históricos de Campina Grande (http://www.youtube.com/watch?v=2Z8zTBj-3HI&list=FLL6bqg07ZCa6wMwc3X6u9aw). Entre o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa, estreei um espetáculo cênico com o mesmo grupo, Dia de suicídio (ou como atravessar a rua sem ser assaltado), em parceria com Thúlio Antunes. Trabalhamos muito, ora encantados, ora espantados, porque uma pesada vara de luz balançava misteriosamente enquanto ensaiávamos na madrugada nublada da Serra. Nesse projeto, compartilhei ideias e emoções com Márcio Antunes, Almir Almeida, Fábio Dantas, Sérgio Abajur, Álvaro Fernandes, Renan Barbosa, Napoleão Gutenberg e tantos outros. Nos últimos anos, alegra-me ver a multidão enfileirada na porta do Teatro, aguardando as atuações magistrais dos convidados do Festival Internacional de Música de Campina Grande.

Com a janela da memória aberta, reverencio Joel Cavalcante, Raimundo Formiga, Hermano José, Carlos Santos, Wilson Maux, Eneida Maracajá, Gilmar Albuquerque, Saulo Queiroz, Alana Fernandes e Aluizio Guimarães pela dedicação ao Teatro. Que a iniciativa de Seu Cabral, o Pé de Chumbo, inspire outros gestores. E que no centenário possamos, quiçá, ao ver o balé, o coro e a orquestra do Municipal, incluir outros nomes na lista dos gestores, homens e mulheres, sensíveis e comprometidos com arte e cultura nesta cidade.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Coro de Câmara em São Paulo – Parte 3/3

No penúltimo dia da turnê em São Paulo, o Coro de Câmara de Campina Grande apresentou-se no Museu de Arte Sacra, uma construção secular na qual se insere o Mosteiro da Luz e onde vivem as Irmãs Concepcionistas. O concerto ocorreu no pátio interno, que tem excelente acústica, numa manhã ensolarada, com céu azul, algumas nuvens e vento brando. O som do coro reverberou nas paredes daquele monumento de taipa, que guarda um rico patrimônio da arte sacra e os restos mortais do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão. Cantamos para um público acomodado sobre a grama, bem como para as monjas enclausuradas, que nos ouviam recolhidas no silêncio das suas celas, cujas janelas, protegidas por cortinas semicerradas, permitiam a passagem de uma estreita faixa de luz.

Na Cultura Inglesa, localizada no Brazilian British Centre, participamos da série de recitais do Centro de Música Brasileira, um convite da pianista Eudóxia de Barros. Nesta noite, abrimos com o Salmo 23, de Eli-Eri Moura, com a irretocável interpretação do pianista Paulo César Vitor. Do repertório secular destacaram-se Desafio, de Osvaldo Lacerda, e A cacimba, de Reginaldo Carvalho com poema de Zé da Luz, obra que arrancou risos da plateia. Durante o programa, comentei que estava celebrando 30 anos de trajetória musical e sobre a alegria de reencontrar, ao longo da semana e naquele recinto, pessoas importantes nesta caminhada, dentre as quais Marcos Júlio Sergl, Graças Reis, Djailton Carvalho e Samuel Kerr. Na recepção, após o concerto, brindamos com vinho, fato que alegrou ainda mais aquela noite, que, por conta do início do horário de verão e da nossa euforia, prometia ser muito curta.

O café amargo e com gosto de saudade não nos despertou do mundo dos sonhos. O ônibus chegou e lentamente carregamos as malas, partindo rumo à Igreja Batista da Vila Gerte, em São Caetano do Sul. Com o templo lotado, cantamos com força e fé, sorrindo e chorando, felizes pelo dever cumprido, tristes por conta da despedida. Um sentimento de gratidão, no entanto, tomou conta daquele espaço sagrado ao final da celebração-concerto, depois dos solos e das orações, quando emocionados entoamos com a congregação Como agradecer a Jesus, uma conhecida melodia do HCC.

Voltamos renovados e confiantes, sabendo que o caminho é este e que ainda há muito que trilhar até o próximo desafio, seja um novo repertório, empreendimento ou turnê, desta vez, no Rio de Janeiro, ano que vem. Meu agradecimento especial para o Coro de Câmara de Campina Grande, sem o qual nada disso seria possível, para a UFCG, a UEPB, a FURNE e o Instituto Cresce Campina, bem como todos os parceiros de São Paulo, que acreditaram e ajudaram a concretizar este projeto.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Coro de Câmara em São Paulo – Parte 2/3

O terceiro dia da turnê em São Paulo começou com uma visita à Escola Municipal de Música. Lá nos esperavam as professoras Sônia Albano, diretora da instituição, e Regina Kinjo, regente do Coro Infanto-Juvenil. Após a apresentação dos anfitriões, o Coro de Câmara interpretou cerca de dez canções. Para coroar o encontro, cantores, professores e plateia trocaram experiências enquanto o coquetel era servido.

No caminho para a EMESP, paramos no Mosteiro de São Bento, uma referência na arquitetura brasileira. A basílica é imponente, escura, ornamentada e possui um órgão de tubos que é usado frequentemente nos serviços religiosos e concertos. Contemplamos a obra sem pressa. Queríamos cantar naquele santuário. Como não era permitido fotografar e filmar, imaginamos que não lograríamos êxito no pleito. No entanto, o monge paraibano que nos atendeu autorizou-nos a cantar e também registrar aquele momento singular em nossa trajetória. Cantamos ao redor do altar, de forma introspectiva, a Ave Maria e As sete palavras da oração dominical, dois motetos de Reginaldo Carvalho.

Na EMESP, nosso concerto foi para uma plateia pequena, porém qualificada. Dentre os seletos espectadores estavam Thiago Abdalla, Fábio Ramazzina e Chrystian Dozza, membros do Quaternaglia Guitar Quartet, amigos do Festival Internacional de Música de Campina Grande. Curiosamente, ao final do concerto, alguém indagou-me publicamente sobre o nosso processo de trabalho e, mais particularmente, a sonoridade do grupo. Empolgado, falei das minhas convicções, que sou adepto do solfejo móvel e que prefiro cantar literatura originalmente escrita para coro, priorizando, sempre que possível, o repertório inédito, brasileiro e paraibano. Contei que o coro ensaia três vezes por semana e que divido o tempo disponível em várias etapas, incluindo técnica vocal e leitura à primeira vista, esta última usando os corais de Bach. Disse que acreditava na força educativa da prática coral e que procurava explorar diferentes sonoridades, afinando as notas e os formantes das vogais, buscando leveza e uniformidade. Convidei todo mundo para conhecer nosso trabalho in loco, assim seria possível saborear os elementos do Português Brasileiro falado e cantado no Nordeste do Brasil, e quem sabe dirimir qualquer preconceito, visto que nossas idiossincrasias não nos tornam nem maiores nem menores, nem melhores nem piores, senão únicos e diversos ao mesmo tempo.

Tendo em vista o cancelamento das atividades em São Carlos, reordenamos o cronograma do quarto dia. Muitos foram para a José Paulino, a Vinte e Cinco de Março e a loja Irmãos Vitale. Alguns passearam pelo Ibirapuera. Outros se juntaram na cozinha do Hostel, temperando a comida e a amizade. Ensaiamos no final do dia. Depois, partilhamos a sopa, o pão e as experiências, celebrando aquele instante e a vida.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Coro de Câmara em São Paulo – Parte 1/3

O Coro de Câmara de Campina Grande realizou recentemente a sua primeira turnê nacional. Ao todo, foram sete apresentações na cidade de São Paulo, incluindo o Instituto Baccarelli, o SESC, a Escola Municipal de Música, a EMESP, o Museu de Arte Sacra, a Cultura Inglesa e a Igreja Batista da Vila Gerte.

A turnê teve início com uma visita ao Coro da OSESP. Fomos recebidos pela maestrina Naomi Munakata. Participamos do aquecimento vocal, coordenado por Marcos Tadeu, e acompanhamos a preparação da Petite Messe Solenelle, de Rossini, e do Requiem, de Mozart. Antes do término das atividades, falamos sobre o trabalho desenvolvido em Campina Grande e cantamos para os integrantes daquele coro. Ao longo do ensaio, compreendemos o funcionamento de um grupo profissional, a sua rotina de trabalho, seus desafios e (des) encantos. À tarde, visitamos a Sala São Paulo, que, apesar das políticas de democratização do acesso à música, não permite a entrada de pessoas com sandálias.

No dia seguinte, visitamos o Instituto Baccarelli, um dos projetos sociais mais relevantes no Brasil, no campo da música. Conhecemos a estrutura física e a proposta artística e pedagógica da instituição, idealizadas e assinadas por grandes nomes, dentre os quais Silvio Baccarelli, Isaac Karabtchevsky e Zubin Mehta. Nas conversas com a equipe administrativa, soubemos da existência de vários grupos de câmara, orquestras e mais de vinte coros, incluindo músicos com diferentes faixas etárias, interpretando repertórios diversos. Na ocasião, fomos recepcionados pelo coro infanto-juvenil, assistidos por Cláudia Cruz e Silmara Drezza, que também é a coordenadora dos grupos vocais do instituto. O pré-coral, formado por crianças entre 6 e 7 anos, também participou do encontro. Conforme explicou a regente Juliana Rheinboldt, aquela era a primeira apresentação do grupo. As músicas interpretadas nos fizeram pensar sobre os sentidos da vida. Fiquei emocionado, pois, primeiro, as crianças cantaram Movimentando e Canção de ninar a sementinha, ambas de minha autoria. Depois, Leandro Souza regeu o Coro de Câmara, que cantou Vida nova, música de Gualtieri Beloni Filho, com arranjo de Samuel Kerr. Os versos de Thiago de Mello sublinharam nossa práxis poética e profética: “volto armado de amor para trabalhar cantando, na construção da manhã.”

À noite, seguimos para o SESC, na Vila Mariana, onde encontramos o grupo da professora Giselle Cruz. Juntos, desenvolvemos várias atividades, que, num processo crescente e contínuo, nos encantaram e envolveram, fazendo com que perdêssemos a noção de tempo e lugar. A noite estava fria e a lua flutuava alta no céu acinzentado quando caminhamos para o Hostel, cantarolando Mais um adeus, ruminando os versos do poeta centenário, certos de que a música, assim como o amor, é uma alegria e de repente uma vontade de chorar.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Missas brasileiras

O Concílio Vaticano II estabeleceu diretrizes que modificaram as práticas musicais ligadas à Igreja Católica, tanto do ponto de vista composicional quanto interpretativo. A aceitação dos cânticos em vernáculo, a inclusão da tradição musical nativa/regional e a flexibilização na utilização de instrumentos foram algumas das novidades. Nesse contexto se inserem a Misa Criolla (Ariel Ramírez, 1964), a Misa Popular Nicaragüense (Manuelito Dávila, Angelo Cerpas e Juan Mendoza, 1968), a Misa Campesina Nicaragüense (Carlos Mejía Godoy, 1975), a Misa Popular Salvadoreña (Guillermo Cuéllar, 1978-1980) e a Misa a Buenos Aires (Martín Palmeri, 1997).

O Encontro Nacional de Música Sacra, realizado no Brasil em julho de 1965, também tratou do tema, influenciando provavelmente alguns compositores, que passaram a empregar as constantes melódicas, harmônicas e rítmicas da música brasileira. Obras com tais características afloram a partir da segunda metade do século XX: Missa Sertaneja (Reginaldo Carvalho1958), Missa Ferial (Osvaldo Lacerda, 1966), Missa Breve (Henrique de Curitiba, 1966), Missa em Aboio (Pedro Marinho), Missa Afro-Brasileira (Carlos Alberto Pinto Fonseca, 1971), Missa Nordestina (Lindembergue Cardoso, 1971-1974), Grande Missa Nordestina (Clóvis Pereira1978), Missa Olindense (Jaime Carvalho Diniz, 1980) e Missa Alcaçuz (Danilo Guanais, 1996).

Reginaldo Carvalho, por exemplo, compôs a Missa Sertaneja para coro misto a cappella. Trata-se de uma missa cíclica que está dividida em seis partes. O tema inicial de um cada dos movimentos é construído sobre o modo mixolídio, à semelhança das melodias dos cantadores da região Nordeste do Brasil. O texto difere do texto tradicional canônico da missa católica, rezada em língua portuguesa, pois a Missa Sertaneja tem um caráter popular, marcado pelo uso de coloquialismos, tais como a substituição do pronome pessoal “nós” por “a gente”, no Kyrie e no Cordeiro de Deus, ou a expressão “CrenDeusPai”, encontrada na frase inicial do Credo, que reproduz o modo de falar do povo sertanejo.

Os resultados parciais de um estudo sobre este assunto foram publicados nos Anais do XXII Encontro da ANPPOM (João Pessoa, 2012, p. 2556-2564). Percebe-se que as obras, com ou sem função litúrgica, estão em sintonia com as tendências do cenário musical da segunda metade do século XX, associando, em certa medida, a expressão criativa e artística às diretrizes do Concílio Vaticano II. Ao verificar as datas nas quais as peças foram escritas, conclui-se, também, que as mudanças estabelecidas pela Igreja reiteraram uma tendência já existente, visto que alguns compositores já se empenhavam em produzir música sacra empregando elementos regionais, como é o caso de Reginaldo Carvalho, que compôs a Missa Sertaneja quatro anos antes do Concílio. Espera-se que os resultados estimulem o aprofundamento das discussões, a criação de novas obras e, finalmente, contribuam para a difusão desse patrimônio, ampliando as perspectivas da música sacra brasileira.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma cidade em festa

A Universidade Federal de Campina Grande e a Universidade Estadual da Paraíba saúdam os participantes do IV Festival Internacional de Música de Campina Grande (www.fimus.art.br). Este Festival, que gradualmente se consolida no cenário musical brasileiro, tem como objetivo dinamizar a vida acadêmica, artística e cultural da cidade, do estado e da região. Nossa meta é ser um evento de referência internacional, ampliando a visibilidade de Campina Grande no setor da música. A nossa missão, fortalecer intercâmbios e parcerias, gerando emprego, renda e a expansão do mercado de trabalho.

Chegamos à quarta edição reunindo artistas, professores e alunos de diferentes partes do Brasil e do mundo. Alguns convidados já são velhos conhecidos, como a pianista coreana Hye Youn Park, o violinista israelense Netanel Draiblate, o Quaternaglia Guitar Quartet. Outros, mais novos, a exemplo da flautista Renata Pereira e do saxofonista Rodrigo Capistrano, chegam agora para assegurar a revitalização dos nossos ideais e propósitos. Este ano, o Festival celebra o centenário do poeta e compositor Vinicius de Moraes e o sesquicentenário do pianista e também compositor Ernesto Nazareth, um dos maiores nomes da música brasileira do início do século XX.  Nada mais oportuno, portanto, do que ouvir as Canções de amor, de Claudio Santoro, baseadas nos poemas de Vinicius de Moraes. Para coroar este clima de festa, o Prêmio Radegundis Feitosa – outorgado pela Universidade Estadual da Paraíba a um músico ou entidade artístico-cultural que esteja desenvolvendo ou tenha desenvolvido um trabalho musical relevante no âmbito local, regional ou nacional – será entregue à pianista Eudóxia de Barros por conta do seu trabalho de divulgação da música brasileira e, mais particularmente, da obra de Ernesto Nazareth. Antes da entrega do Prêmio, ela interpretará tangos e valsas deste ícone da nossa música.

As novidades também são muitas. Uma delas é a participação do Texas A & M University Chorale, regido pelo maestro Randall Hooper, que vem para o Brasil pela primeira vez para participar do Festival. José Staneck desenvolverá um trabalho musical e social extremamente relevante com a realização de uma oficina de gaita de boca dirigida para crianças das escolas públicas. O grupo Nó na madeira, vencedor do concurso Pré-Estréia, promovido pela TV Cultura, na cidade de São Paulo, também integra a nossa programação. Além dos concertos no Teatro Municipal Severino Cabral e no Mosteiro Santa Clara, este ano o Festival também será realizado na cidade de Patos, sertão paraibano.

Sejam, portanto, bem-vindos. Venham e tragam na bagagem agasalhos, instrumentos e muita disposição para desfrutar do ambiente festivo que invade a Serra da Borborema, no mês de julho, por causa do Maior São João do Mundo, que este ano completa trinta anos, e por conta de mais uma edição do Festival Internacional de Música.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

domingo, 3 de março de 2013

Métodos e técnicas de solfejo

O canto coral, enquanto atividade educativa, configura-se como o espaço ideal para o desenvolvimento de habilidades, dentre as quais a aprendizagem do solfejo, uma atividade prática que, quando associado ao repertório coral, torna o ensaio mais eficaz, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem de conteúdos teóricos musicais. Esta revisão bibliográfica, publicada nos Anais do XI Encontro Regional da ABEM, tem como objetivo discutir os pressupostos metodológicos do ensaio coral, à luz da educação contemporânea, contribuindo para o desenvolvimento desta prática pedagógico-musical, propondo estratégias dirigidas para a aprendizagem do solfejo e teoria musical, por meio da abordagem do repertório. A meta é descrever os principais sistemas e métodos de solfejo, bem como compará-los, apresentando suas vantagens e desvantagens, reforçando a importância do solfejo para o canto coletivo.

Nos métodos de solfejo fixo, as sílabas especificam o nome das notas, independente da função que exercem. A notação musical é a referência, e as notas são sempre designadas pelo mesmo nome. O solfejo por intervalos é uma boa estratégia para resolver problemas específicos, como, por exemplo, saltos intervalares muito grandes. Uma das limitações do método é o seu caráter fragmentário, visto que os intervalos são abordados de forma isolada, fora do contexto melódico, rítmico e harmônico no qual se inserem.

O solfejo por números pode gerar certa confusão conceitual, já que os números são usados para definir altura e duração. Se, por um lado, o uso do método móvel mostra-se eficiente porque permite que o cantor solfeje, em qualquer tom e modo, em pouco tempo, por outro, ele também apresenta certas restrições. Uma delas diz respeito ao repertório, pois o método funciona muito bem com música tonal e modal, que não apresenta passagens cromáticas e mudanças de tom e modo. A adequação das sílabas ao novo contexto harmônio e melódico pode comprometer o nível de aproveitamento do ensaio. Os métodos móveis também podem ser um problema para músicos que tocam com instrumentos que não são transpositores. Há alguns anos, Ricardo Freire apresentou o Sistema Fixo-Ampliado, elaborado a partir da análise dos elementos de interferência identificados em vários sistemas de solfejo, tanto fixos quanto móveis, propondo uma síntese entre os focos de aprendizagem de cada um deles.

As propostas apresentadas servem como referência para a elaboração de uma rotina de trabalho que contemple a prática do solfejo e da leitura à primeira vista no ensaio coral. Esta inclusão contribuirá para a melhoria do ensaio coral e isto só pode ser feito por meio de uma ação programada, utilizando as diferentes metodologias, transformando cada ensaio num momento de construção de saberes por meio de uma práxis criteriosa e sistemática.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Material didático para o ensino de Música

A homologação da Lei 11.769/2008 resulta dos longos e exaustivos debates entre pedagogos, músicos e Governo, nos últimos anos. No entanto, se, por um lado, o estabelecimento deste imperativo legal representou mais um avanço no processo de democratização do acesso à Arte, por outro, também gerou uma série de problemas para a inserção do ensino de Música nas escolas. Ainda há carência de recursos humanos para o exercício da função de educador musical, visto que, em muitas cidades, inexistem cursos de Licenciatura em Música ou Educação Musical. É preciso preparar os estabelecimentos de ensino para o desenvolvimento de práticas musicais eficazes, dotando-os com instrumentos e espaço adequado para as aulas de Música, ensaios e apresentações de corais, conjuntos, bandas e orquestras. A escassez de livros didáticos e material instrucional na área de Música é outro problema com o qual os educadores têm que lidar.

Recentemente, analisei materiais didáticos destinados ao ensino de música e disponíveis no mercado editorial, cuja publicação ocorreu após 2008, ano de promulgação da Lei 11.769. O  estudo teve como objetivo instrumentalizar o professor com informações que lhe permitam refletir sobre o material didático para o ensino de música. Os resultados estão publicados nos Anais do XI Encontro Regional da ABEM.

A pesquisa foi dividida em três etapas. Na primeira, o foco foi a revisão da bibliografia que trata do livro didático, sua história e desenvolvimento. Na segunda, selecionou-se o corpus para a análise, incluindo a coleção Radix (Beá Meira, 2009), o Livro de brincadeiras musicais da Palavra Cantada (Sandra Peres e Luiz Tatit, 2010) e os dois volumes da coleção Para fazer música (Cecília Cavalieri, 2008 e 2010). Na última fase, analisaram-se os pressupostos teóricos e metodológicos, a seleção e o encadeamento de conteúdos, as propostas de atividades e exercícios, a relação entre teoria e prática, o uso de recursos audiovisuais e a interação com as obras selecionadas disponíveis em mídias digitais.

O livro didático é uma ferramenta importante, porque nele estão organizados conteúdos básicos dos programas de ensino. Porém, deve-se compreender que este é apenas mais um recurso a ser empregado pelo professor, que deve saber diferenciar material instrucional e livro didático, mantendo sempre uma postura crítica e reflexiva sobre os conteúdos apresentados. Os livros analisados contemplam vários conteúdos, a vida e a obra de artistas como Luiz Gonzaga e Beethoven, o forró e a sinfonia, a MPB e a ópera, o universo rural e urbano, a música acústica e a música eletrônica, os instrumentos convencionais e aqueles confeccionados artesanalmente. Esta atitude demonstra uma mudança no panorama educacional brasileiro, ratificando a premência das propostas multiculturais e humanizadoras no contexto contemporâneo.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sobre a turnê nos EUA e os novos projetos


O Coro de Câmara de Campina Grande realizou, no último mês de novembro, uma excursão pelos Estados Unidos da América, cantando na Mississippi State University (Satrkville-MS), Zachary Performing Arts Center (Zachary-LA), Louisiana State University (Baton Rouge-LA) e Texas A & M University (Commerce-TX). Em todos os concertos, o grupo apresentou o projeto Do litoral ao sertão, todos os cantos da Paraíba, destacando a literatura coral paraibana, mais particularmente a obra de José Alberto Kaplan, Eli-Eri  Moura, Pedro Marinho, José Siqueira e Reginaldo Carvalho.

Além de cantar com o Mississippi State Singers, Zachary United Methodist Church Choir, LSU A Cappella Choir e Texas A & M University Chorale, o Coro de Câmara também teve a oportunidade de participar de masterclasses com renomados profissionais, dentre os quais Gary Packwood, John Dickson e Randall Hooper. Dentre as obras interpretadas conjuntamente destacam-se Lux aurumque (Eric Whitacre), Pilgrim’s Hymn (Stephen Paulus) e Praise His Holy Name (Keith Hampton), escritas por compositores norteamericanos, Mulher rendeira, com arranjo de Carlos A. P. Fonseca, e Guajira espúria, de minha autoria. A experiência foi extremamente positiva, estreitando os laços entre o grupo brasileiro e os coros estadunidenses, ampliando as perspectivas profissionais dos cantores e estudantes, que certamente regressarão aos EUA para qualificação profissional. Conhecer realidades artísticas e educacionais diferentes, além de expandir os horizontes, estimula a autoavaliação, favorece o aprimoramento das ações que desenvolvemos.

Como resultado desta parceria, o Coro de Câmara receberá, ainda este ano, o Mississippi State Singers e o TAMUC Chamber Singers. Os dois coros participarão do IV Festival Internacional de Música de Campina Grande, evento promovido pela Universidade Federal de Campina Grande e Universidade Estadual da Paraíba, que acontece em julho. Os grupos visitantes apresentarão vários recitais em Campina Grande e redondezas e participarão do concerto de encerramento do Festival, quando cantarão, em conjunto com o Coro de Câmara e Coro em Canto, o Requiem, de Gabriel Fauré, para coro e orquestra. Além das atividades artísticas, também terão a oportunidade de ter aulas sobre a literatura vocal brasileira.

A ideia para este ano é dar continuidade ao projeto Do litoral ao sertão, todos os cantos da Paraíba, aumentando o número de compositores contemplados. A culminância desta iniciativa será a gravação de um DVD/CD com obras de compositores paraibanos. O grupo apresentará este trabalho numa turnê nacional, no mês de outubro, pelo Sudeste do Brasil, incluindo os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e em diversos encontros e festivais na cidade, estado e região. O apoio da UFCG, UEPB, FURNE e de tantas pessoas e instituições, a quem somos gratos, foi e continuará sendo fundamental para o sucesso do trabalho do Coro de Câmara de Campina Grande.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Lá vamos nós (e voz...)

É com grande alegria que o Coro de Câmara de Campina Grande lança o seu sítio (www.corodecamara.mus.br), apresentando um pouco da sua trajetória e das atividades que estão em andamento. A meta é estreitar os laços com aqueles que se interessam pelo canto coral e, mais especificamente, com o público que nos prestigia. Desde a sua fundação, o grupo tem se dedicado, quase que exclusivamente, à interpretação de repertório originalmente escrito para coro, resgatando peças importantes da literatura vocal brasileira, merecendo destaque, neste contexto, as obras de Reginaldo Carvalho, natural de Guarabira-PB.

O Coro de Câmara tem servido também como laboratório para alunos da graduação em Música que, em diversas ocasiões, atuam como regentes e/ou solistas. O trabalho de leitura e técnica vocal é baseado no repertório estudado, associando, desta forma, teoria e prática, dinamizando o processo de ensino-aprendizagem. O grupo tem se apresentado regularmente em diferentes eventos artísticos e culturais promovidos dentro e fora do estado da Paraíba, a exemplo do Festival de Inverno de Garanhuns e dos Festivais Internacionais de Música de Campina Grande,ocasiões nas quais teve a oportunidade de trabalhar sob a direção dos maestros norte-americanos Kenneth Fulton e Randall Hooper. Foi a partir destes contatos que o Coro recebeu o convite para realizar uma turnê na América do Norte, nos estados do Mississipi, Louisiana e Texas.

Como todo projeto pioneiro, as dificuldades foram múltiplas, o que nos levou a pensar, inicialmente, na inviabilidade do empreendimento em virtude dos altos custos envolvidos. No entanto, gradualmente, fomos encontrando soluções. Assim, o projeto ganhou força. Definimos o calendário da viagem, o repertório, as estratégias para aquisição dos passaportes e expedição do vistos, bem como a aquisição das passagens. Várias iniciativas foram postas em prática, incluindo a realização de feiras na periferia, feijoadas, venda de camisetas e concertos. Nesta caminhada, encontramos muitos braços amigos, sem os quais tudo teria sido muito mais árduo. O apoio da UEPB, UFCG, FURNe, Mississippi State University, Zachary United Methodist Church, Zachary Council of Arts, Zachary Community School Board, Louisiana State University e Texas A & M University (Commerce) foi determinante para a concretização deste intercâmbio que, indiscutivelmente, abre as portas do mundo para o Coro de Câmara.

Para todos aqueles que nos ajudaram, direta e/ou indiretamente, nosso muito obrigado. A partir do final deste mês, o grupo realiza uma série de concertos em diversos locais de Campina Grande e em outras cidades da Paraíba, dentre as quais Lagoa Seca, João Pessoa e Patos. Nestas apresentações, o Coro de Câmara mostra um pouco daquilo que está levando para os EUA, em novembro. Esperamos encontrá-los em algum momento desta caminhada para compartilhar a alegria que nos faz seguir adiante, acreditando no poder da amizade, do amor e do sonho.



Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)