A primeira vez que estive em Teresina foi em outubro
de mil novecentos e noventa e dois. Fui para a capital piauiense por conta do concurso público para
professor da Universidade Federal do Piauí. Passei uma semana por lá, fazendo
provas, semeando novas amizades. Voltei para casa feliz, aprovado, com a imagem
dos fins de tarde alaranjados e o aroma dos cajueiros. Aqueles dias foram suficientes para compreender o sentido da expressão bê-erre-o bró, usada em referência ao quadrimestre final
do ano e baseada nas últimas sílabas dos meses que o compõem, e que sintetiza
as altas temperaturas da estação.
No ano seguinte,
no dia do meu aniversário, fui contratado. Migrei para lá com o pouco que
tinha, algumas roupas e livros, bem como todos os sonhos que poderia carregar
comigo. Ao chegar, fui recepcionado pelo maestro Emmanuel Coelho Maciel, que me
acolheu com carinho paternal. A professora Lúcia de Fátima também me recebeu
como uma mãe, sempre muita atenciosa. Depois, quando Jane chegou, a caminhada
ficou ainda melhor.
Gradualmente,
conheci a cidade, incluindo sua história, seus lugares, suas gentes e seus
sabores. Cruzei com o Cabeça-de-Cuia, o Troca-Troca, a Frei Serafim, a igreja
de São Benedito, o Encontro dos Rios, o doce de buriti, a cajuína com Maria-Isabel.
Interagi com vários alunos, profissionais e grupos, dentro e fora da
universidade. Convivi com colegas como
Reginaldo Carvalho, regi o Madrigal Vox Populi, conheci o Projeto
Música Para Todos e também vi nascer, tocando flauta ao lado de Zé Rodrigues,
a Orquestra Sinfônica de Teresina. Fiquei impressionado com o
trabalho do professor Marcílio Flávio Rangel. Radicado na Chapada do Corisco há
muitos anos, esse paraibano entrou para a história daquele lugar por conta das
suas ações no campo humanitário e educacional. Seu legado está presente na Casa
Dom Barreto, na Escola Popular Madre Maria Vilac, no Instituto Dom Barreto,
onde Vinicius e Sofia estudaram. Foi para meus filhos e seus colegas que compus
várias canções, muitas das quais ainda estão presentes no cancioneiro daquele
educandário.
A Universidade Federal
do Piauí foi também minha escola. Lá aprendi a lecionar, a ampliar meu espírito
empreendedor e a participar ativamente da administração universitária, percebendo
os limites e possibilidades da gestão pública. Naquela instituição, atuei de
forma intensa e vivi uma das maiores histórias de amor da minha vida ao lado
dos integrantes do Madrigal da UFPI (veja vídeo), grupo que regi por quatro anos e no qual
tive grandes cantores, muitos dos quais hoje são meus amigos e frequentam a
minha casa, o meu coração. Como o tempo decanta tudo, encontrei hoje essas
memórias guardadas bem no fundo do peito. Por isso, minha gratidão, Teresina.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
*Para Teresina, no dia da celebração dos 165 anos.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
*Para Teresina, no dia da celebração dos 165 anos.