domingo, 26 de novembro de 2017

Canção de esperança

A semana foi dinâmica na Universidade Federal de Campina Grande, porque, à semelhança de outras instituições, também celebramos o Dia do Músico, 22 de novembro, com uma vasta programação, organizada por um grupo de alunos e que contou com a supervisão de alguns professores. A meta é realizar o evento anualmente, tornando-o cada vez mais amplo e promovendo o diálogo entre ensino, pesquisa e extensão, expandindo a relação entre a UFCG e a sociedade.

Ao longo da SEMUS, discutimos temas atuais. Marisa Nóbrega falou sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), que poderá ser interrompido por conta dos cortes nas verbas do Ministério da Educação. Cleisson Melo e Jorge Ribbas abordaram a produção musical na contemporaneidade, focando nas questões mercadológicas, tema que também serviu de mote para a rodada sobre marketing na música, coordenada por Fábio Cavalcanti. João Valter Ferreira Filho tratou das perspectivas para a pós-graduação para licenciados em música e Alda Leaby nos fez pensar sobre inclusão, dialogando e cantando em LIBRAS — indiscutivelmente, um dos pontos altos desta sessão ocorreu quando os participantes interpretaram Carinhoso, de Braguinha e Pixinguinha, usando a Língua Brasileira de Sinais.

No que diz respeito à programação artística, realizamos várias apresentações. Ocupamos a praça do Centro de Humanidades, que serviu de palco para o Coro em Canto, a Orquestra e o Coro de Câmara, bem como para os alunos que prepararam um show dedicado à MPB, enquanto na Primeira Igreja Batista e na sala BW4 apresentaram-se a Big Band, a Orquestra de Violões, o Coro Feminino, o Consort Vivace, dentre outros grupos. Foi no nosso auditório que vimos a estreia de mais uma promessa, um quinteto de choro, formado por dois violões, cavaquinho, percussão e trombone.

A iniciativa dos alunos do curso de Música nos ensina que é preciso agir. Eles saíram da zona de conforto, provocaram colegas, professores, administradores, a comunidade, demonstrando que não se contaminaram com aqueles que arrotam insolências travestidas de discursos politizados, que criticam sem ter trajetória, que tentam justificar a inércia acadêmica e profissional na qual se encontram com argumentos questionáveis, alegando a escassez de recursos, os tempos temerosos que vivemos, as inadequadas condições de trabalho, como se a conquista do paraíso fosse pura mágica. Todos os que participaram deste empreendimento estão de parabéns, sobretudo a comissão organizadora. A Semana de Música da UFCG serviu para que pudéssemos reafirmar nosso compromisso, a força do engajamento e o sentido de pertencimento, que, não obstante os limites impostos pela macroestrutura econômica, política e social, nos faz resistir e valorizar as possibilidades, inspirados pela Canção de Esperança que o advento traz e que, nos versos de Flávia Wenceslau, tece a linha do horizonte e nos ensina que o amor jamais nos deixará.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Um som inconfundível

O maestro Nelson Mathias regeu o Coral da UFPB, Campus II, Campina Grande, entre 1978 e 1982. Formado por cerca de sessenta cantores, o coro ensaiava nas dependências do Núcleo de Extensão Cultural, no Teatro Municipal Severino Cabral, duas horas por dia, de segunda a sexta-feira. A preparação vocal do conjunto estava a cargo da professora Célia Bretanha Junker, cuja ação didático-pedagógica tinha como base os princípios propostos por Madeleine Mansion. A sonoridade era leve e ágil, razão pela qual o grupo dedicou-se à interpretação de várias obras da renascença francesa.

As gravações das apresentações do Coral da UFPB, arquivadas em fitas k-7, em diferentes eventos entre 1978 e 1979, reiteram o que estamos falando. Muito embora parcialmente comprometidos pela ação do tempo, nestes áudios é possível identificar vários elementos. A técnica vocal está em processo de consolidação e há equilíbrio e controle da dinâmica e da articulação. Percebe-se o fraseado musical, bem como o diálogo entre os diferentes naipes. Também é notória a precisão rítmica, que ressalta os aspectos percussivos da nossa música popular, assim como as sutilezas e as entrelinhas dos excelentes arranjos assinados por Arlindo Teixeira, Clóvis Pereira, Damiano Cozzella e o próprio Nelson Mathias.


Célia Bretanha e Nelson Mathias concebiam a música para além dos aspectos técnicos. Para eles, era necessário que os cantores compreendessem poética, filosófica e espiritualmente o que era cantado, a polissemia músico-textual, motivo pelo qual o Coral da UFPB normalmente não se apresentava com partituras, pois, na concepção do seu regente, os cantores deveriam estar livres para ver o maestro e para transmitir com mais liberdade o sentido musical daquilo que se cantava.


O Coral da UFPB, sob a direção desses profissionais, foi premiado em festivais, recebeu o reconhecimento do público e da crítica. A proposta, além de artística e educativa, foi também política. Como atestado em alguns dos relatos coletados na pesquisa que realizamos, repetidas vezes o público surpreendeu-se com a atuação do coro. Mesmo sabendo que o grupo era coordenado por dois expoentes nacionais, frequentemente esperava-se do “Coral da Paraíba” um direcionamento técnico e artístico inconsistente, um repertório predominantemente regional e adornado com o placebo cênico, recurso em voga àquela época e que até hoje continua sendo usado, na maioria das vezes, para mascarar incompetências.
A admiração era proporcional ao preconceito. Por isso, quando o coral interpretava com maestria a literatura de diferentes países, autores e períodos, o silêncio, o encantamento, a curiosidade e o respeito também preenchiam todos os espaços. Os Cantores da Rainha contrariaram expectativas, desconstruíram estereótipos, romperam barreiras. Para conhecer mais sobre essa página da nossa história, ouça o inconfundível som do Coral da UFPB e leia a nossa comunicação no XXII Congresso Nacional da ABEM, realizado em Natal-RN, em 2015.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

sábado, 18 de novembro de 2017

Música na UFPB

A criação do Núcleo de Extensão Cultural (NEC), no Campus II da Universidade Federal da Paraíba, iniciativa do Reitor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, contribuiu para dinamizar a vida artística do município de Campina Grande. Há alguns anos, realizei pesquisa com Jeter Maurício da Silva Nascimento com o objetivo de analisar as práticas musicais na referida instituição, entre 1978 e 1982, época na qual o NEC teve importantes conjuntos, dentre os quais o Coral da UFPB, o Quinteto Armorial e o grupo Cordas e Sopros. Nossa meta foi contribuir para a preservação e o resgate da memória e história da cidade, região e do país, oferecendo subsídios para a compreensão da prática coral na época em questão e no momento atual.

O trabalho foi dividido em três partes. Na primeira seção, discutimos os princípios da Nova História Cultural, bem como o papel da Memória e da História Oral. Na segunda, tratamos da criação do Núcleo de Extensão Cultural da UFPB, tendo como base estudos variados, os depoimentos dos professores fundadores e dos sujeitos que viveram naquele contexto. Na terceira, e última etapa, descrevemos a estrutura e o funcionamento do Coral da UFPB, sob a direção dos professores Nelson Mathias e Célia Bretanha. A ênfase, nesta parte, recaiu sobre o processo de seleção dos cantores, o repertório, a metodologia do ensaio, os concertos e as viagens realizadas, bem como outros aspectos sociais, educativos e culturais.


As atividades desenvolvidas no Núcleo de Extensão Cultural abrangiam cursos nas áreas de teatro, fotografia, cinema, artes plásticas e música, incluindo o ensino de diversos instrumentos e matérias teóricas. Estes cursos foram responsáveis pela formação de um grande número de profissionais - eu, por exemplo, iniciei minha vida musical por lá. As contribuições de Nelson Mathias e Célia Bretanha foram determinantes para o surgimento de outros grupos corais na UFPB e na cidade, depois de 1982, dentre os quais o De Repente Canto (UFPB), coordenado por Fernando Rangel, e o Coro em Canto (UFPB-UFCG), que teve como regentes Marisa Nóbrega, Luciênio Teixeira e atualmente é conduzido por Lemuel Guerra.


Hoje, além do Coro em Canto, estão em pleno funcionamento seis outros coros, que integram o Laboratório Coral da Universidade Federal de Campina Grande e também estão vinculados ao Grupo de Pesquisas Unificadas em Artes e Música (GRUNAMUS-CNPq), a saber: Coro Infanto-Juvenil, Coro Feminino, Coro Masculino, Coro Intergeracional do PIATI, CorUNAMUS e Coro de Câmara de Campina Grande. Esses grupos funcionam como coro-escola, auxiliando os estudantes da Licenciatura e do Bacharelado em Música no desenvolvimento das suas habilidades, ratificando a conexão entre ensino, pesquisa e extensão. Para saber mais sobre esse capítulo da nossa história, leia o relato que apresentamos no XIII Encontro Regional da ABEM, na cidade de Teresina-PI, em 2015.


Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)