terça-feira, 11 de março de 2014

Benedicite

Benedicite, palavra latina que significa bendizer, é o título de um soneto de Olavo Bilac, publicado postumamente em 1919. O poema, formado por dois quartetos e dois tercetos, é um cântico de louvor que exalta os feitios humanos, bem como aquele que, “no dó profundo, descobriu a Esperança, a divina mentira, dando ao homem o dom de suportar o mundo!” Utilizei este poema para escrever uma obra para coro misto a quatro vozes, que foi dedicada ao Dr. Karl Nelson e ao University of Central Oklahoma Concert Chorale.

A peça dura, aproximadamente, quatro minutos e está dividida em seis partes. Os fragmentos utilizados na seção inicial foram extraídos de uma melodia medieval, Benedicamus Domino, inserida no Liber Usualis. A segunda seção é contrapontística, enquanto a terceira faz referência à música do Nordeste do Brasil. As melodias modais evocam os violeiros e a estrutura rítmica faz referência ao baião, uma das danças mais populares da região. A atmosfera lírica da quarta seção contribui para realçar o clímax do poema, e as progressões harmônicas da penúltima seção enfatizam o caráter introspectivo do texto. A obra conclui em clima de festa, combinando voz e percussão.

A composição deve ser interpretada a cappella. No entanto, entre os compassos 92 e 110 é possível adicionar percussão, incluindo triângulo, zabumba e ganzá, utilizados nas danças nordestinas. Neste caso, os instrumentos tocam colla voce (triângulo = alto, ganzá = soprano/tenor e zabumba = baixo). Outra opção é a percussão corporal. Minha sugestão é que os baixos batam palmas em forma de concha, os tenores estalem os dedos, os sopranos executem o ritmo com as mãos espalmadas, e os contraltos façam o mesmo sobre as pernas, as coxas. Para criar variedade, pode-se executar a primeira vez como está escrito. Em seguida, usar apenas instrumentos de percussão ou exclusivamente percussão corporal. Finalmente, vozes e instrumentos podem atuar conjuntamente, avivando o caráter rítmico e dançante da obra. Os movimentos corporais também podem ser coreografados. Os baixos batem palmas no peito, do lado do coração; os tenores balançam os braços; os contraltos dobram seus joelhos, inclinando ligeiramente o tronco para a frente; sopranos se movimentam como quem toca pratos sinfônicos.

A estreia da obra aconteceu há poucas semanas, com o University of Central Oklahoma Concert Chorale, durante uma visita que fiz àquela instituição. Além das palestras e do recital solo, tive a oportunidade de ensaiar e reger o coro, que trabalha sob a coordenação do maestro Karl Nelson. Esse mesmo grupo, formado por vinte e quatro cantores, vem para o Brasil com o objetivo de participar do quinto Festival Internacional de Música de Campina Grande, quando apresentará, novamente, esta obra em conjunto com o Coro de Câmara de Campina Grande.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)