Ao ingressar no FACMADRIGAL, o encanto se acentuou. Sérgio
Telles, nosso maestro, herdara de Nelson Mathias e Célia Bretanha, com quem
havia trabalhado no Coral da UPFB entre 1978 e 1982, a leveza e a sonoridade da
escola francesa. Contaminado, dediquei-me durante dez anos à interpretação da
música renascentista, abordando, particularmente, a chanson française, com o Nós e Voz. Nos divertimos com as
narrativas dúbias de Sermisy, Certon e Passereau e com as desafiadoras canções
descritivas de Janequin, a serviço da corte do Rei Francisco Primeiro. Em 1996,
descobri que a ópera estava ao meu alcance. Foi Jasmin Martorell, esse
catalão-francês que conheci em Olinda, quem me fez esta revelação. Aliás, foi
por intermédio dele que as portas do Conservatoire de Toulouse se abriram para a
minha temporada naquela cidade avermelhada, onde passei seis meses
estudando canto, sob sua orientação, em 1998. Na ocasião, conheci o Valle
de La Loire e visitei o castelo de Chambord, decorado com salamandras, fleur de lis e tantos outros símbolos da realeza. A riqueza dos detalhes arquitetônicos
me fazia pensar contrapontisticamente. Toulouse, Orléans e Paris fizeram parte
da minha rota naquele final de década. Posteriormente, em 2002, voltaria à
Paris, como membro do LSU A Cappella Choir, sob a direção do mestre Kenneth
Fulton, para uma série de apresentações na Cathédral Notre Dame e na Église de la
Madeleine.
Recentemente, pesquisando a obra de Reginaldo Carvalho,
identifiquei seus laços afetivos e profissionais com a França. Além de morar e estudar aqui, casou-se com uma francesa. Andou por Marseille, Bordeaux, Aix-en-Provence e viveu o
frenesi da Cidade Luz no auge entre os anos cinquenta e sessenta. Ontem, andando pelo Boulevard
Saint-Germain, nos arredores da l’Opéra Garnier, sentei-me para tomar um café
naquele reduto no qual se encontravam artistas, músicos, escritores e
filósofos, dentre os quais, provavelmente, Olivier Messiaen, Paul Le Flem, Pierre Schaffer, Jean
Piaget, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e Reginaldo
Carvalho.
Nesta temporada na França, revejo o passado-presente, celebrando, ao mesmo tempo, o
aniversário da minha esposa, do meu filho e também as nossas
bodas. Aguardo, com enorme expectativa, a chegada do Coro de Câmara de Campina
Grande, que está vindo para uma série de concertos nas cidades de Olivet e
Gien, na região central. É abril. E Paris é primavera, páscoa, paixão.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
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