domingo, 5 de abril de 2015

Paris, primavera, páscoa e paixão

Minhas conexões com a França remontam à época na qual iniciei os estudos musicais, participando do quarteto de flautas doces do Departamento de Artes da Universidade Federal da Paraíba, campus Campina Grande, na companhia de Carlos Alan, Marconi Siqueira e Francisco Metri. Com este grupo, interpretei obras compiladas por Pierre Phalèse e Pierre Attaignant. A simplicidade daquelas danças me fascinava. Nesse momento, também comecei a frequentar a Cultura Francesa.

Ao ingressar no FACMADRIGAL, o encanto se acentuou. Sérgio Telles, nosso maestro, herdara de Nelson Mathias e Célia Bretanha, com quem havia trabalhado no Coral da UPFB entre 1978 e 1982, a leveza e a sonoridade da escola francesa. Contaminado, dediquei-me durante dez anos à interpretação da música renascentista, abordando, particularmente, a chanson française, com o Nós e Voz. Nos divertimos com as narrativas dúbias de Sermisy, Certon e Passereau e com as desafiadoras canções descritivas de Janequin, a serviço da corte do Rei Francisco Primeiro. Em 1996, descobri que a ópera estava ao meu alcance. Foi Jasmin Martorell, esse catalão-francês que conheci em Olinda, quem me fez esta revelação. Aliás, foi por intermédio dele que as portas do Conservatoire de Toulouse se abriram para a minha temporada naquela cidade avermelhada, onde passei seis meses estudando canto, sob sua orientação, em 1998. Na ocasião, conheci o Valle de La Loire e visitei o castelo de Chambord, decorado com salamandras, fleur de lis e tantos outros símbolos da realeza. A riqueza dos detalhes arquitetônicos me fazia pensar contrapontisticamente. Toulouse, Orléans e Paris fizeram parte da minha rota naquele final de década. Posteriormente, em 2002, voltaria à Paris, como membro do LSU A Cappella Choir, sob a direção do mestre Kenneth Fulton, para uma série de apresentações na Cathédral Notre Dame e na Église de la Madeleine.

Recentemente, pesquisando a obra de Reginaldo Carvalho, identifiquei seus laços afetivos e profissionais com a França. Além de morar e estudar aqui, casou-se com uma francesa. Andou por Marseille, Bordeaux, Aix-en-Provence e viveu o frenesi da Cidade Luz no auge entre os anos cinquenta e sessenta. Ontem, andando pelo Boulevard Saint-Germain, nos arredores da l’Opéra Garnier, sentei-me para tomar um café naquele reduto no qual se encontravam artistas, músicos, escritores e filósofos, dentre os quais, provavelmente, Olivier Messiaen, Paul Le Flem, Pierre Schaffer, Jean Piaget, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e Reginaldo Carvalho.

Nesta temporada na França, revejo o passado-presente, celebrando, ao mesmo tempo, o aniversário da minha esposa, do meu filho e também as nossas bodas. Aguardo, com enorme expectativa, a chegada do Coro de Câmara de Campina Grande, que está vindo para uma série de concertos nas cidades de Olivet e Gien, na região central. É abril. E Paris é primavera, páscoa, paixão.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com

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