Depois de Olivet, o Coro de Câmara de Campina Grande seguiu para
Gien, cidade com cerca de quinze mil habitantes. Ambas ficam
na região do Vallée de la Loire, onde estão
localizados suntuosos castelos. A estrada entre as duas comunidades é plana e colorida,
especialmente nos dias em que a natureza mostra toda a sua exuberância. Apenas uma
imponente usina nuclear, localizada nos arredores de Gien, faz contraponto com a
paisagem campestre.
Quando chegamos na Église de Jeanne d’Arc, totalmente
reconstruída após a Segunda Guerra Mundial, o sol começava a se por. A luz que
passava por entre os vitrais refletia nas paredes,
criando um ambiente avermelhado, acolhedor. Era domingo e o público não tardou a chegar,
dando sinais de que a igreja ficaria lotada naquele anoitecer. Em pouco tempo,
os mais de seiscentos programas que preparamos para a turnê haviam se esgotado.
Toda a primeira parte do concerto foi dedicada à música sacra. Nosso programa realçou
as conexões entre a França e o Brasil por meio das composições de Reginaldo Carvalho,
Amaral Vieira e Maurice Duruflé. Finalizamos com uma sequência de spirituals e gospels, obras nas quais Paulo César Vitor mostrou toda a sua habilidade
e competência. A atmosfera era contemplativa, mística. Pedro Furtado me disse
que foi tomado pela emoção e não conseguiu cantar The Lord Is My Shepherd, de
Allen Pote, porque lembrou-se de Carlos Lima, um amigo em comum que também era
apaixonado por esta música.
As manifestações de apreço foram intensas ao longo do
concerto. No intervalo, enquanto fazíamos a preparação para a interpretação da Messe en Sol, de Franz Schubert, o
público fez pequenas ofertas em reconhecimento ao nosso trabalho. Ao término, fomos
calorosamente aplaudidos por cerca de dez minutos. Repetimos o Gloria. A alegria novamente se fez presente e nos seguiu até o final da
recepção, quando fomos saudados pelo prefeito de Gien e integrantes da administração local. Outra vez, ouvimos promessas de reencontro e continuidade do projeto.
Todos mereciam um prêmio pela brilhante atuação. Por isso,
logo cedo, naquela fria segunda-feira, uma parte do grupo partiu para Paris. Os
outros iriam no dia seguinte. Enquanto o trem desparecia lentamente na névoa
rarefeita, embaçando temporariamente nossos gestos e olhares, corremos para
visitar a Faïencerie de Gien, que produz utensílios e objetos em cerâmica de
modo artesanal há mais de dois séculos. Depois, vimos castelos, pontes e ruas,
tentando estabelecer relações entre passado e presente. À noite, eu, Paulo
César Vitor e Julie Cássia Cavalcante apresentamos um recital-palestra sobre a
canção de câmara brasileira. Finalmente, agradeci por tudo e, recorrendo ao
Pequeno Príncipe, disse: “nós nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo
que cativamos.” É clichê, eu sei, mas é verdade.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
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