No último Congresso da Associação Nacional de Pesquisa em Música (ANPPOM), realizado em João Pessoa-PB, apresentei, em
conjunto com Jeter Maurício da Silva Nascimento, os resultados de uma pesquisa
que desenvolvemos por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), intitulada Por uma
prática coral educativa: Uma proposta de utilização do Guia Prático, de Heitor
Villa-Lobos. O texto completo pode ser acessado gratuitamente nos Anais do
referido congresso (http://goo.gl/FyWK8a), páginas 1824-1831.
A pesquisa teve como objetivo discutir os pressupostos
metodológicos do ensaio coral à luz da educação contemporânea, contribuindo
para o desenvolvimento desta prática pedagógico-musical e, consequentemente, o
aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem em música. Utilizou-se o Guia Prático, de Heitor Villa-Lobos,
para demonstrar como o regente/educador musical pode trabalhar diferentes
conceitos musicais por meio do repertório coral, substituindo
o treinamento pela aprendizagem procedimental. A investigação, com caráter teórico, foi dividida
em três etapas. Na primeira, discutiram-se os fundamentos da aprendizagem
musical, com especial atenção para o trabalho de J. A. Sloboda (A Mente Musical: A psicologia cognitiva da
Música, Londrina: EDUEL, 2008). Na segunda, analisou-se o Guia Prático, do qual foram extraídas
obras com diferentes características. Na última, propôs-se uma metodologia de
ensaio baseada no repertório selecionado, pois a análise das canções mostrou
que vários conteúdos musicais podem ser trabalhados pelo regente/educador,
potencializando os aspectos educativos da prática coral.
Baseados nos estudos de
Sloboda (2008), concluímos que o processo de aprendizagem e aquisição de uma
habilidade, neste caso o solfejo, precisa ser pensado em todas as suas etapas,
porque o conhecimento só consegue afetar o comportamento se houver uma regra de
produção que possa agir sobre ele, visto que todo comportamento é
procedimental. Por isso, os alicerces de qualquer aprendizagem são a
repetição e o retorno. As técnicas pedagógicas de ensaio e exercício são
extensões da necessidade natural de repetir, não imposições totalmente
externas. O progresso só é alcançado mediante um grau de prática repetitiva,
que excede o que seria prazeroso ou intrinsecamente gratificante. Logo, a abordagem do solfejo, de forma isolada e
descontextualizada na prática coral, pode comprometer este processo. Assim, é
preciso associar o repertório aos conteúdos estudados.
Os resultados da pesquisa não são conclusivos. Espera-se que a proposta possa ser discutida e adaptada a outros
repertórios, dinamizando o processo de ensino-aprendizagem no
ensaio coral, incluindo coros infantis, juvenis e adultos, substituindo a ineficiente prática do treinamento baseado na
imitação, que comumente ocorre quando o cantor reproduz acriticamente aquilo
que o regente lhe oferece, por uma forma mais consciente de aquisição do
conhecimento. Desta forma, regentes e cantores sairão desse comportamento
eminentemente bancário e passivo, usando a máxima Freiriana, e caminharão em
direção a uma ação inteligente, baseada na construção de conhecimentos musicais
significativos.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário