A Sinfonia Nº 9, em Ré menor, Opus 125, de Ludwig van
Beethoven, é uma obra de referência dentro da literatura sinfônica. A
composição, em quatro movimentos, foi finalizada em 1824 e é singular em vários
aspectos, destacando-se, sobretudo, pelo último movimento, escrito, de forma
pioneira, para quarteto vocal solista, coro e orquestra. O texto, de Friedrich Schiller,
também conhecido como Ode à Alegria,
é uma canção de júbilo e esperança, que exalta o amor universal. Esta é uma das
sinfonias mais interpretadas nas salas de concertos ao redor do mundo. No
Brasil, só neste mês de dezembro, sabe-se que a Nona Sinfonia foi apresentada em várias cidades, incluindo Curitiba, Recife e Salvador.
Em Salvador, tive a oportunidade de atuar como solista na
montagem que foi organizada pelo maestro José Maurício Valle Brandão. O
empreendimento contou com a participação dos solistas Izadora França (soprano),
Vanda Otero (mezzo) e Angelo Dias (barítono); do Madrigal e da Orquestra da UFBA;
da Associação Lírica da Bahia (ALBA); e dos músicos que integram os Núcleos
Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA). Ao todo, foram
realizadas duas récitas, sendo uma no Salão Nobre da Reitoria da UFBA e outra
no Teatro Castro Alves, ambas com entrada gratuita e público excedente.
Ao longo de uma semana em Salvador, entre ensaios e
encontros, interagindo com músicos e plateia, tive a oportunidade de
experimentar, mais uma vez, o poder que a música tem de mover as emoções. Essa
vivência foi potencializada, provocando catarse, renovando utopias.
Ao lado do amigo Angelo Dias, conheci parte do trabalho construído por Irmã
Dulce (https://www.irmadulce.org.br). Na visita que fizemos ao complexo hospitalar e ao memorial, localizado na Cidade Baixa, nos arredores do Bonfim, acompanhamos os vários passos de uma
trajetória de amor e doação, testemunhamos a história de uma vida dedicada ao
próximo, às causas sociais, à construção de um mundo mais humano e fraterno.
Por isso, ressignificamos nossa atuação como intérpretes,
extrapolando os limites linguísticos da partitura e do texto poético, dando
sentido, como preconiza Keith Swanwick, às nossas experiências musicais. Mais
que notas, ritmos e frases, cantamos a vida, compartilhamos sentimentos,
vivemos um momento único da condição humana, ignorando as diferenças, sublinhando
as equivalências. A obra de Beethoven, o texto de Schiller e o legado de Irmã
Dulce são revelações da face mais sublime e divina da nossa existência, do
Criador. Os mais de duzentos músicos no palco, incluindo pessoas inseridas em
diferentes realidades econômicas, sociais e culturais, motivados pela alegria
que a música provoca, reiteraram a força ecumênica dos nossos gestos, ratificaram a premissa de que aquilo que nos une é mais forte que aquilo que nos separa, fizeram
toda a diferença nesse Natal.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
*Para os amigos José Maurício Valle Brandão e Angelo Dias.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
*Para os amigos José Maurício Valle Brandão e Angelo Dias.
2 comentários:
Cantar e tocar a vida sublinhando as equivalências! Viva a música!!! Obrigada pela força deste texto e das observações! Abraço!!!
Oi, Betânia. Obrigado por ler e comentar. E que possamos nos encontrar mais vezes para (com) partilhar dessas experiências que a música nos oferta-provoca. Beijos e abraços.
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