Na mesa de abertura, o foco foi o ensino de música no âmbito
universitário. Falei sobre o que temos desenvolvido na Universidade Federal de
Campina Grande, enquanto o professor Eduardo Conde Garcia Júnior fez o mesmo no
contexto da Universidade Federal de Sergipe. À tarde, o tema foi a música de
tradição oral. José Renato Accioly falou sobre o Movimento Armorial,
enfatizando a Grande Missa Nordestina,
do compositor Clóvis Pereira, obra para solistas, coro e orquestra. Odílio
Saminez abordou a música dos Lambe Sujo,
da cidade de Laranjeiras. A professora Aglaé D’Ávila Fontes, presidente da
FUNCAJU, octogenária ativista cultural que esbanja vitalidade, energia e
histórias sobre a cultura popular daquele estado, relatou suas
experiências pioneiras no campo da educação musical. Encerramos o dia dançando Samba de Côco com um grupo quilombola.
Silvério Pessoa discutiu o hibridismo em sua produção. Falou
do frevo, do maracatu, da infância em Carpina, destacando, com grande
emoção e afeto, o primeiro contato que teve com a música de Jackson do Pandeiro
e como isso foi determinante para a definição do seu estilo. Profundo
conhecedor da obra deste alagoa-grandense, ele tem dedicado parte da sua
produção fonográfica para a regravação das obras do Rei do Ritmo, como assim o nomeou Fernando Moura. Poty Fontenelle,
que foi arranjador da banda Mastruz Com Leite durante vários anos, discutiu a
música numa perspectiva comercial, desmistificando muitos aspectos deste
fazer/saber, aproximando o universo acadêmico do mercado de trabalho. Lucas
Campelo encerrou as conferências descrevendo a trajetória de Dominguinhos, sua
formação e obra.
Neste encontro, o debate
foi acirrado e pautado em cima da dicotomia limite/possibilidade,
tradição/modernidade, popular/erudito, licenciatura/bacharelado, a missão
poética/profética do educador/artista. Estou certo que todos expandiram seus universos
sonoros, ampliaram as formas de percepção de si e dos outros, compreenderam que
é preciso respeitar as diferenças e as peculiaridades das práticas
musicais da região. Na despedida, guardei na mala e na memória os sabores e o Cheiro da Terra, uma canção de Chiko Queiroga e
Antônio Rogério que ressalta as belezas de Aracaju, enquanto fechava a janela do quarto, no hotel defronte à praia
de Atalaia, mirando as ondas do mar.
2 comentários:
Se nós mantivermos essa atenção aos nossos saberes, aprofundaremos a compreensão e consolidaremos esse produto chamado "Nordeste". São infinitas nuances estéticas e utilitárias que ocupam todo o imaginário da criação possível, passando pelos Menestréis e trovadores do medievo, Cordelistas e Aboiadores do semi-árido e funkeiros e MCs do século XXI. Todos update com suas narrativas e contemporaneidades em seus locus e ethos.
Reinvenção, permanência, transitoriedade. Viva a dinâmica da vida e da cultura, Poty. Abraço.
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