sábado, 13 de setembro de 2014

A nova safra de regentes da Paraíba

A Universidade Federal de Campina Grande está colocando no mercado de trabalho os três primeiros Bachareis em Regência formados no estado da Paraíba: Gunnar Silvestre, Jeter Maurício e Ulisses Azevedo. Tive a oportunidade de acompanhá-los ao longo dos últimos quatro anos, pois foram meus alunos em diversas disciplinas e integrantes do Coro de Câmara de Campina Grande. Nesta caminhada, eles vivenciaram intensamente, de forma teórica e prática, as várias etapas do contínuo processo de formação da profissão que abraçaram. Como de praxe, para concluir o curso, cada um desenvolveu um projeto de pesquisa e apresentou um recital.

Gunnar Silvestre trabalhou com a obra do compositor paraibano Reginaldo Carvalho, que tem sido tema dos nossos estudos nos últimos anos. Juntos, analisamos As Flô de Puxinanã e A Cacimba, ambas com poema de Zé da Luz, nascido em Itabaiana. Focamos na relação música e texto, nas diferentes formas que o compositor usou para realçar os aspectos irônicos e satíricos da narrativa, o dito e o não-dito, o conflito entre tradição e modernidade. No concerto, no Museu Assis Chateaubriand, da UEPB, obras sacras e seculares, que nos permitiram viajar de Guarabira à Paris com e pela música de Reginaldo Carvalho.

Jeter Maurício investigou as atividades desenvolvidas no Coral da UFPB, Campus II, entre 1978 e 1982, período no qual o grupo estava sob a coordenação do maestro Nelson Mathias e da professora Célia Bretanha. Fundamentados nos pressupostos metodológicos da Nova História Cultural, realizamos entrevistas, analisamos documentos, fotos e programas no intuito de compreender, sob a perspectiva sócio-educativa-cultural, o trabalho realizado àquela época. No concerto, obras do repertório interpretado pelo Coral da UFPB, incluindo música da renascença, clássica, contemporânea e popular brasileira. Para ver de perto os resultados, convidamos Nelson Mathias e Célia Bretanha para acompanhar e participar do recital.

Ulisses Azevedo adentrou pelo universo da música coral sacra, analisando o trabalho de Nabor Nunes, outro paraibano de Itabaiana, que deixou vasto conjunto de obras para diferentes formações instrumentais e vocais. Por meio das entrevistas realizadas na capital paulista, onde ele viveu e trabalhou durante muitos anos, várias informações e documentos foram coletados, incluindo fotos, partituras, depoimentos de familiares, material importante para que pudéssemos realizar uma pesquisa inédita sobre esse compositor tão profícuo, mas ainda tão pouco conhecido. Além do famoso Pai-Nosso Sertanejo, Nabor Nunes escreveu muitas obras baseadas na música de tradição oral do Brasil, trabalho realizado em sintonia com os princípios da Teologia da Libertação. No recital, realizado na Primeira Igreja Batista, incluímos uma seleção das peças mais representativas do compositor. Parabéns à nova safra de regentes do estado da Paraíba. E que venham, portanto, novos desafios.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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