A análise composicional é uma atividade necessária para a consolidação da prática interpretativa, e é essencial que o executante tenha uma sólida formação teórica e que possa utilizá-la no processo analítico que precede qualquer execução. Os processos analíticos abrangem múltiplas áreas do conhecimento musical, variando quanto aos métodos, técnicas e objetivos. A compositora Ilza Nogueira, no artigo Análise composicional: o que, como, e por que, publicado na Revista ART (Salvador: UFBA, 1992), enumera três situações analíticas distintas: 1) a concepção, 2) a partitura, e 3) a percepção. Na primeira, o analista posiciona-se em relação à imagem sonora na mente do compositor, no momento da composição; na segunda, ele posiciona-se diante da partitura stricto sensu; e na terceira, seu objetivo específico é a imagem sonora que a partitura projeta. As situações analíticas atendem a propósitos diversificados e a opção do intérprete por qualquer uma delas deve ser determinada pela bagagem cultural que o mesmo dispõe e pela adequação ao contexto obra-compositor.
O primeiro passo no estudo de uma partitura é a pesquisa sobre o autor, o período e as características do momento histórico da obra para, posteriormente, identificar seus elementos inerentes, isto é, harmonia, ritmo, tempo, articulação, texto, dentre outros parâmetros. É preciso que o regente desenvolva a capacidade de observar criticamente uma partitura, e isto significa, primeiro, averiguar o grau de confiabilidade dela (se é original, manuscrita, fac-símile ou editada e, uma vez editada, quais as semelhanças e diferenças que apresenta em relação ao original e/ou às outras edições) e, segundo, ponderar sobre as informações que ela apresenta para atestar a compatibilidade com os princípios estéticos pertinentes ao contexto histórico em questão. Esse posicionamento crítico, mediante a partitura, acentua-se quando o intérprete tem consciência de que a notação de uma peça musical é, em certa medida, sempre imprecisa, pois, como Stravinsky observa no livro Poética Musical, a dialética verbal é impotente para definir a dialética musical em sua totalidade.
Também consideramos importante para o estudo e interpretação de uma obra, além do aspecto analítico, o desenvolvimento de processos eficientes de memorização, a criação de referenciais sonoros e das imagens auditivas construídas pelo ouvido interno. É necessário desenvolver um processo sistemático de retenção de conteúdo, baseado na análise dos elementos estruturais da partitura.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
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