Em nosso país, o coro cênico ganhou espaço no auge dos experimentalismos e das transformações ocorridas no panorama musical da primeira metade do século XX. A mudança técnica e estética no canto coral se fez notar na relação entre regentes e cantores, no padrão vocal, na postura corporal, no repertório, na vestimenta e na atuação cênica e musical do grupo, fato que abriu espaço para a inclusão de arranjos de música folclórica e popular brasileira e, dentre outros fatores, permitiu um tratamento interpretativo mais adequado, sobretudo no que diz respeito aos aspectos sonoros e gestuais. E é na década de oitenta que se constata no trabalho de alguns coros brasileiros a presença de determinadas tendências, que incluem o uso de movimentos corporais e o emprego de exercícios de expressão corporal no preparo das obras de forma geral.
Nos Estados Unidos, esta prática é muito comum em coros escolares. Aqui, a proposta tem sido usada mais frequentemente por coros adultos e com diferentes objetivos, incluindo os fins terapêuticos. Entre os anos 80 e 90, apresentei com o Nós em Voz dois espetáculos que misturavam música, teatro, dança, humor e literatura. Foi uma experiência válida. No entanto, quando percebi que estava deixando a matéria sonora para trás, na segunda fila, refleti e decidi que era hora de voltar às origens e explorar a literatura originalmente escrita para coro e ainda muito pouco interpretada por nossos grupos. A experiência musical e vocal dos nossos cantores precisa ser ampla e abrangente.
Combato o excesso. Critico aqueles que defendem o coro mexitivo, como sabiamente definiu Reginaldo Carvalho, alegando que o repertório coral, seja ele europeu, americano ou brasileiro, é difícil, chato e cafona. Sou contra o frenesi que está em voga e que só serve para justificar a incompetência dos aproveitadores de plantão. Defendo a coexistência de múltiplas tendências, cada uma com o seu cada qual, desde que a excelência vocal, musical e artística seja a tônica, o centro, a razão de ser da prática coral.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
8 comentários:
é professor as pessoas preferem o mais facil do que o mais correto e bonito
mas enfim cada um com seu cada qual, né verdade??
rudrygo
Escreveu e disse!
Sempre existirá a esperança de um despertar... enquanto isso, é melhor que deixemos "cada um com seu cada qual"!
Parábens pelo texto e pelo bolg em geral! Você sempre com ótimas idéias e esse talento para escrever...
Sempre compartilhei dos seus ideias de mudança, progresso,colaboração e de excelência artística.
abração
Luana Torres
Concordo em preservar a qualidade vocal, mas acredito que não podemos generalizar, existem côros cênicos no Brasil que conseguem ter movimentação corporal e manter a qualidade vocal sim!
Também acho que não se pode generalizar. Existem coros cênicos bons, e não é preciso ir muito longe rpa encontrar. Mas, de qualquer forma, a situação descrita é verdadeira. Muitos deles se importam mais com o teatro e aí pronto, dá no que dá.
Concordo existirem varios regentes que aproveitam do cenico para esconder falhas na produção sonora,entretanto defendo um proposta onde o vocal está em primeiro plano. Mas compreendi seu pensamento...valeu mais uma vez!
Que alívio! Eu achava que só eu tivesse tal opinião. Parabéns pela coragem de explanar idéias tão importantes e necessárias para a sobrevivencia de um trablaho de qualidade que, a meu ver, tem sido deixado de lado, infelizmente...
Pode ter certeza q suas palavras nos trazem encorajamento e incentivo. Obrigada por isso!
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