quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Cantores, preparem-se!

Ao longo da minha carreira como regente, tenho observado que meus alunos, de forma geral, não chegam muito preparados para a aula e/ou ensaio. Os comentários a seguir pretendem contribuir para a melhoria da nossa práxis cotidiana, seja na sala de aula, no ensaio ou na apresentação.

Ao estudar uma canção, colete dados sobre o autor, onde viveu e com quem estudou. Leia o texto e faça uma tradução, que poderá ser literal ou poética. Destaque as palavras importantes, quem está falando, narrando a história que você vai cantar/contar. Marque as respirações. Estude a pronúncia e faça uma transcrição fonética utilizando o Alfabeto Fonético Internacional (IPA). Se necessário, visite o site http://www.ipasource.com/ para verificar a pronúncia das palavras em língua estrangeira. Descubra o tom e o modo da música. Observe a unidade de tempo e de compasso e escolha uma sílaba neutra para solfejar. Resolva os problemas rítmicos e melódicos de uma seção antes de seguir adiante. Isole as passagens mais difíceis, aquelas que geraram dúvida. Depois, contextualize-as. Entenda a função expressiva da articulação, do andamento e das variações de intensidade e velocidade. Observe a relação entre a melodia e o acompanhamento, como os dois dialogam e se complementam. De que forma cantor e pianista podem interagir e construir uma obra unificada? Estude os exercícios e o repertório antes da aula, pois o encontro só será produtivo se o aluno estiver preparado, fato que permitirá o professor trabalhar técnica e artisticamente.

O ensaio não é o momento para aprender notas ou tirar dúvidas sobre o ritmo ou o texto. Dialogue com o pianista ou regente e encontre soluções razoáveis para as passagens problemáticas. Ouça, para fins de exemplo, uma gravação da obra em estudo. Prefira os grandes intérpretes, os ícones da sua categoria vocal. Usar qualquer gravação como refeerência pode ser perigoso, sobretudo quando a interpretação é inconsistente. Nunca utilize uma gravação para aprender uma nova obra. Isto é muito ruim, porque o modelo escolhido pode ter muitos vícios. Diferentemente daquilo que a tradição sugere, cantores são seres pensantes, inteligentes e capazes de aprender uma música por meio do solfejo e de um processo racional.

Seja sistemático ao estudar. Estabeleça uma seqüência para a sua prática individual diária, que poderá incluir aquecimento corporal, escalas, intervalos, tradução do texto, transcrição fonética, audição de obras, repertório e leitura à primeira vista. Evite o improviso. Beba muito líquido, assim suas pregas vocais estarão sempre umedecidas e a produção vocal será mais propícia. Evite cantar e estudar quando estiver doente, rouco e vocalmente cansado. O repouso vocal é condição essencial para uma voz saudável. Conscientize-se que para cantar bem não basta ter uma voz impressionante, forte e com grande extensão e tessitura. Cantar é um ato simples, porém muito complexo porque envolve múltiplas dimensões do conhecimento humano. Para ser um excelente cantor, é necessário ter disciplina, determinação e paciência, conhecendo a música em sua essência mais profunda e as suas relações com outras áreas.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

8 comentários:

Anônimo disse...

E funciona mesmo! Eu já vi!
Grande abraço!
Dayana.

Anônimo disse...

A preparação é muito importante!
O texto diz tudo!
Liliane

Anônimo disse...

Passo isso para meus alunos!
E estou vendo resultados!!!
Funciona!
Germano

Anônimo disse...

O texto é objetivo e esclarecedor. Muito bom.
O professor da disciplina Prática Interpretativa vem detalhando a importância dessas etapas, no entanto, percebo que existe uma falta de interesse e compromisso por parte dos alunos.Acredito que uma saída para o momento é tentarmos encontrar neste início de curso um método para suprir as deficiências dos alunos sem perder o foco do que desejam os professore. Por exemplo: A permanência do nivelamente.
Fredi.UFCG

Aniele disse...

oi professor!!!adorei seu blog...
Esse texto realmente só confirma como a gente pode progredir ainda mais...Bom mesmo é fazer diferença e as pessoas notarem a grande melhora que o estudo proporcina!!
grande abraço!!!
ANIELE

reginaldo carvalho disse...

A música 'não diz'. A música 'age'. É a palavra que diz. Na cantoria ocorre o interessante fenômeno de ambas se casarem. O cntor deve saber disso procurar conhecer a função peculiar de ambas para um melhor desempenho na cantoria.

reginaldo carvalho disse...

A música 'não diz',a música 'age'. É a palavra que diz. Na cantoria ocorre o interessante fenômeno de ambas se casarem. O cantor deve na verdade ter o conhecimento de ambas para o melhor desempenho na cantoria.

Reginaldo Varvalho disse...

Certa feita, durante um congresso nacional de regentes de coros e corais no Rio de Janeiro... uma professora ilustríssima, conhecidísima, para grande espanto só de alguns dos presentes que apenas se entreolharam com um sorriso significativo, mas, com a aparente aceitação de todos, aconselhou que os coralistas deveriam bochechar e gargarejar com água bicarbonatada antes dos ensaios e apresentações 'para uma boa lavagem de limpeza e lubrificação (sic) das pregas vocais'!
Seria bom que os regentes tivessem uma ilustraçãozinha qualquer de anatomia ao focalizar o assunto sobre as necessidades e vantagens das bochechadas e dos gargarejos... e da localização exata das tais pregas!
Na Alemanha vi, antes de um ensaio, os coralists usarem fio dental e escovarem as bochechas, o céu da boca, assim como o inferno da própria também, e os dentes e as gengivas, sob a supervisão severa e minuciosa do professor de técnica vocal, e ainda a utilização dum aparelhinho apropriado para a retirada da saburra lingual! O coral fornecia a pasta dentifrícia. Cada um que trouxesse a sua escova... A seguir, cada uma escancarava o bocão diante da venta do professor para a averiguação do hálito! Na França, me assustei enojado vendo todos escovarem os dentes com a mesma escova sem lavá-la sequer!... Era só botar a pasta nas cerdas e passar adiante!...
Fiquei pensando nos nossos bravos coralistas universitários que muitas vezes saem do bandeijão direto pro ensaio, ainda aos arrotos, alguns tendo saboreado, por sobremesa?, uma generosa cebola crua ou um dentinh'-de-alh'!

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