sábado, 7 de novembro de 2009

A (des) educação que vem de casa

Os congestionamentos no trânsito são frequentes em cidades de porte médio, pois as vias públicas não comportam mais o grande número de veículos em circulação. Nas portas dos colégios, os motoristas buzinam sem parar e complicam ainda mais o tráfego quando estacionam em fila dupla. Em quase todas as ruas que dão acesso às escolas, encontramos placas, indicando que é proibido parar e/ou estacionar. Contudo, sempre achamos carros parados em tais lugares, sobre as calçadas, faixas para pedestres, vagas para portadores de necessidades especiais e garagens de residências. O mais curioso é que os veículos têm sempre as mesmas características: são grandes, novos e caros, levando-nos a crer que seus proprietários se sentem privilegiados, seja pelo patrimônio que aparentam ter, seja pelo sobrenome que possuem.

É também nas portarias das escolas que muitos pais agem de forma desrespeitosa, sobretudo furando a fila para entrar ou sair do colégio, situação que também se repete na fila da cantina. Já perdi a conta de quantas vezes fui surpreendido por alguém que entrou na fila de forma irregular. Quando no auditório, nas festas e apresentações artístico-culturais dos alunos, a maior parte dos pais acredita que só existe um personagem no palco: o seu filho ou a sua filha. Por esta razão, eles se acham no direito de ficar em pé, na frente de todas as outras pessoas, em cima das cadeiras, conversando, sorrindo, acenando, filmando e fotografando da forma que lhes é mais conveniente. Aliás, em tais lugares, onde os pais deveriam dar o exemplo, sempre acho que poderíamos ter mais cortesia e gentileza no lugar de arrogância e grosseria. Já percebi que quanto mais rica e bem frequentada é a escola, pior é a situação, pois dinheiro, poder e educação nem sempre andam juntos.

As pessoas acompanham o crescimento dos seus filhos por anos consecutivos e compartilham do mesmo espaço educativo-cultural que a escola oferece, sem, no entanto, observar, minimamente, aquilo que é ensinado, isto é, as regras básicas da convivência respeitosa. Agindo desta forma, a família destrói todo o trabalho de consolidação da cidadania que os educadores tentam desenvolver. E a criança passa a viver a dicotomia de que trata o velho provérbio popular: faça o que eu digo; não faça o que eu faço.

É desnecessário enumerar os reflexos destas ações na vida dos nossos alunos e filhos, que são as testemunhas oculares dos deslizes éticos que cometemos cotidianamente. Precisamos ficar atentos e lembrar que educamos mais pelas nossas ações que pelos nossos discursos. E, como já foi dito, “é necessário educar as crianças para que não seja necessário corrigir os homens.”

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

Um comentário:

Bianca Almeida disse...

PErfeito!
Na correria da vida, 'as vezes "furava" sinal vermelho com meus filhos dentro do carro. Eles sempre comentavam que o sinal estava fechado e eu acaba inventando uma desculpa. Mas depois de um tempo percebi que eles ja nao falavam mais nada...já era normal... :-(
Chamei eles, conversei com minha atitude incorreta e pedi desculpas por ter acontecido aquilo...refletimos e foi melhor, ja que felizmente nao teve uma consequencia pior..
Sempre educava meus alunos com esses valores e acabei errando com meus proprios filhos.
Hoje essa historia é uma lição que levo para sala de aula, mostrando que sempre é tempo de recomeçar corretamente.
É isso..
parabens, Vladimir.

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