sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Por favor, respeitem o artista.

Estabelecer-se profissionalmente é uma tarefa árdua para o músico. Durante o tempo de estudante, pensei que jamais iria conseguir sobreviver com o meu trabalho, porque quase todas as apresentações que realizava eram gratuitas e muito raramente recebia outro tipo de apoio logístico. Hoje, as coisas são diferentes por conta da experiência e do investimento que fiz ao longo de duros anos estudando. Tenho sido muito seletivo com os convites que recebo e sempre procuro fugir dos empreendimentos sem retorno financeiro. As pessoas devem entender que, à semelhança de qualquer outro profissional, o artista também precisa ser remunerado pelos seus serviços. Para preparar um concerto, um músico, além de adquirir partituras e equipamentos, passa horas estudando e ensaiando em busca da melhor sonoridade e interpretação. Trata-se de um investimento de alto custo.

Abomino com veemência aquela conhecida lengalenga de que não se tem dinheiro para pagar os músicos. Também detesto quando me pedem para reduzir o número de músicos e repertório com o objetivo de abater gastos. Ao ouvir esse tipo de sugestão, informo que o trabalho de preparação de uma obra é o mesmo, independente da quantidade de pessoas envolvidas. O mais engraçado, entretanto, é que, dificilmente, esses indivíduos agem da mesma forma e com mesquinhez nos escritórios dos advogados, arquitetos, engenheiros, dentistas ou médicos. Geralmente, pagam o que eles pedem porque, em muitos casos, são reféns de tais profissionais, nem sempre tão confiáveis e honestos. Contudo, em matéria de música, a realidade não é bem essa.

Sempre que me convidam para realizar concertos e sou informado sobre a indisponibilidade de recursos financeiros, penso antes de responder. Investigo bastante para saber do que se trata. Quando percebo que alguém está querendo se aproveitar do meu trabalho, manifesto a minha indignação e digo que estou ofendido, pois considero um absurdo que tanto os empresários, que faturam alto com os seus negócios, quanto o governo, que arrecada fortunas com os nossos impostos, aleguem falta de recursos para a viabilização de projetos culturais que, em última instância, só servem para promovê-los e projetá-los política e socialmente.

Propostas indecentes como estas explicitam a fragilidade das políticas públicas na área da cultura, assim como o preconceito e as limitações dos investimentos da iniciativa privada neste setor. Vou além. Elas nos levam a crer que o dinheiro arrecadado pelo setor estatal, que poderia e deveria ser aproveitado em educação, arte e cultura, está, provavelmente, sendo retido, desviado, usado para outros fins, em outras palavras, embolsado indevidamente. Por favor, parem com isso! Respeitem o cidadão. Valorizem os artistas.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

9 comentários:

Jair Gonçalves disse...

Eu esto nesta luta!!!

Abraços

JAIR DOS SANTOS GONÇALVES disse...

PODÍAMOS COMEÇAR UMA CAMAPNHA NACIONAL COM O LEMA: POR FAVOR RESPEITE O ARTISTA!

Marco Antonio do Amaral disse...

"Dá pra vc fazer uma musiquinha pra nós?
Pergunto: Vc pode fazer uma comidinha, preciso almoçar 12H?
Uma refeição de qualidade necessita experiência, dedicação e bom gosto. Nossa arte exige isto e muito mais pois é um alimento espiritual.O músico tem que se valorizar,demonstrar sóbrias atitudes!
Valeu professor!

Anônimo disse...

vamos mostrar que temos valor se todos nós botassemos os pés na parede na hora de ser convidado pra eventos que nao querem nos pagar logo iam ver que somos profissionais e merecemos respeito
obrigado vlads por esse texto
abraços
rodrigo

Reginaldo Carvalho disse...

O pior acontece quando alguém se intromete, por puro enxerimento, querendo se mostrar e aparecer de qualquer jeito, ou morto(a) de fome, e se oferece por menor preço, na maior falta de respeito, falta de responsabilidade, na maior mesquinhez, na maior falta de educação, na maior falta de vergonha na cara, na maior fela-da-putice que se possa imaginar, usufruindo-se do pãodurismo inerente da mentalidade tacanha dos ignorantes dos valores éticos e artísticos!

SampaioJazz disse...

Infelizmente muitos artistas não valorizam sua arte, vendem ao preço de banana e causam uma visão de mediocridade para com todos os artistas...resumindo a culpa é do próprio "músico".
Jonas Sampaio

Anônimo disse...

Sabemos que o mundo capitalista fez surgir inúmeros serviços tercerizados, com a arte não foi diferente. Muitos "artistas" surgem constantemente no mercado e trocam seu resumido repertório por doses e dirvesão.
E então pergunto, onde está a arte?.
O Artistas responsáveis profissionaliza-se para poder então exigir seus direitos artisticos e financeiros. Não podemos cair neste discurso de que "o mundo da arte está assim", saiba, VOCÊ É QUEM CONSTROE ESSE MUNDO.
Envio muitas vibrações positivas acompanhadas de muito DAIMOKU.Fredi.

Anônimo disse...

Bravo, Vladimir, mil vezes bravo!!!
É nossa omissão como classe que permite ainda vermos absurdos sendo cometidos contra o artista. Que bom que tens a coragem de ser uma voz denunciante!!!
Aqui do Sul, uno-me por inteiro a tua bandeira. Tenho estado nessa luta há anos também, e não devemos parar!!!
Villa-Lobos tinha uma frase que acho genial para ilustar o que discutimos: "Música de graça é desgraça!"
Um abraço do Cláudio Ribeiro

Anônimo disse...

As noivas gastam R$ 4.000,00 com a decoração da igreja, fitas, tapetes, flores. Mas, numa mesquinhez atroz, barganham o preço cobrado pelos músicos que lhe enfeitam o momento. Horror a ser combatido. Parabéns, grande Vladimir.

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