segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A polêmica em torno dos coros cênicos

Response to Gordon Paine's Essay on Show Choirs  é o título do texto que Michael L. Masterson publicou no Choral Journal, em maio de 1982, contestando o artigo Coro cênico: algumas ideias para reflexão, de Gordon Paine.

O autor inicia sua exposição dizendo que concorda com muitos dos argumentos apresentados, muito embora considere a premissa básica de Paine inválida, pois a música comercial norte-americana é plural e tem valor cultural e educacional. Masterson é de acordo que certa literatura interpretada por coros performáticos pode até ser superficial. Contudo, destaca que, para além da matéria sonora, existem muitos outros aspectos que precisam ser explorados e compreendidos. Ao apresentar um ponto de vista elitista e excludente, Paine reduz as possibilidades de diálogo e caminha na direção oposta daquilo que Howard Swan defendera em seu discurso na convenção da ACDA, isto é, que regentes e educadores podem ajudar seus coralistas a perceberem que “as categorias de bom e ruim não têm conexão real com as categorias de clássico e popular”. Além disso, discentes devem aprender a construir tais sentidos a partir das suas próprias experiências com a música. A proposta é que esse movimento, que tem se dedicado à interpretação de repertório popular e jazzístico, contemple obras que tenham raízes na cultura norte-americana, pois, para Masterson, esse processo formativo não pode ser totalmente nostálgico e baseado no passado. Para ele, via de regra e independentemente do estilo, o fazer musical permite que as pessoas vivenciem a obra de arte de forma direta, “seja participando de sua recriação, no ensaio ou na performance.” As ideias de Masterson sintetizam o pensamento multiculturalista em voga no contexto educativo-musical estadunidense.

Grosso modo, podemos dizer que as proposições apresentadas são mais inclusivas e menos hegemônicas, ratificando a importância da abordagem intercultural e da diversidade, tanto na sala de aula-ensaio quanto no palco, na sala de concerto. O debate entre Paine e Masterson nos mostra que é preciso superar essa polarização, que, por um lado, superestima a literatura vocal historicamente consolidada por força do poder econômico e político de determinados grupos e povos e que, por outro, subalterniza tudo aquilo que não corresponde ao modelo imposto como padrão. Quem quiser conferir a resposta de Michael L. Masterson, aqui está o texto em língua portuguesa. Esse contraponto, muito embora seja reducionista, diga-se de passagem, é importante para alargarmos nossas discussões em torno de um tema ainda tão atual.

Por fim, a percepção das diferenças e a valorização das idiossincrasias são caminhos viáveis para uma convivência equilibrada e respeitosa. A nossa responsabilidade nesse processo é enorme. É, na verdade, um exercício permanente da cidadania, razão pela qual precisamos estar atentos, refletindo criticamente, pois nossas escolhas contribuirão para a preservação ou alteração desse status quo.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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