segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O Canto Coral na Paraíba: Fernando Rangel

Fernando Antônio Machado Rangel é um nome relevante para a história do canto coral no estado da Paraíba, mais particularmente para a cidade de Campina Grande, onde ele atuou como docente do Núcleo de Extensão Cultural, posteriormente Departamento de Artes da Universidade Federal da Paraíba, entre 1978 e 1989. O professor, que é Licenciado em Música (UFPE, 1976) e tem mestrado em Contrabaixo (Western Michigan University, 1998), foi o responsável pelo retorno da prática coral ao seio da instituição, em 1986. O fato merece destaque porque essa atividade havia sido interrompida em 1982, com a saída do casal Nelson Mathias e Célia Bretanha da Serra da Borborema.

O coro que ele fundou, inicialmente denominado De Repente Canto e que depois passou a chamar-se Coro em Canto (programa), era formado por pessoas da comunidade e membros da UFPB. O grupo, que ensaiava duas vezes por semana, participou ativamente dos eventos artísticos e culturais locais, estaduais e regionais, apresentando-se em encontros e festivais na capital pernambucana e maranhense, dentre outras localidades. O conjunto era pequeno e se dedicava à interpretação de repertório variado, englobando peças da renascença à música contemporânea. A música brasileira tinha lugar reservado em todo recital (fotos). Foi com essa turma, por exemplo, que ouvi pela primeira vez o Memento Baiano, de Damião Barbosa Araújo.

Além de professor, contrabaixista e regente, Rangel também arranjou preciosidades de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Chico Buarque para cantarmos, dentre as quais Minha namorada (áudio), Olha Maria e Valsinha; Gostosão, frevo de Nélson Ferreira; Odeon, tango brasileiro de Ernesto Nazareth; e Eleanor Rigby, sucesso dos Beatles. Os arranjos, a cappella e com acompanhamento, são desafiadores, seja por conta das harmonias e dos âmbitos vocais, seja em decorrência do idiomatismo de algumas propostas, sobretudo aquelas peças originalmente instrumentais e que foram adaptadas para voz. Todo esse material, que está sendo organizado, analisado e editado, precisa de visibilidade, visto que se trata de um repertório de primeira linha e que pode ser interpretado por amadores e profissionais.

Tive a oportunidade de aprender bastante com o mestre, pois fui seu aluno durante muito tempo nos cursos de extensão do DART e porque, como mencionado, engrossei a fileira dos tenores, ao lado de amigos como Fernando Barbosa, do Quinteto Armorial, e Carlos Alan Peres, do Cordas e Sopros, ambos ligados à UFPB. Rangel marcou sua passagem por Campina, deixando um legado importante, cujas ressonâncias ainda hoje podem ser percebidas nos trabalhos daqueles que tiveram a oportunidade de estar ao seu lado. Com a mudança para Recife, onde atuou na UFPE até aposentar-se, houve um novo hiato no movimento coral universitário campinense, realidade que só foi alterada nos anos noventa.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

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