Cussaruim em dois tempos (Manuel Bandeira - José Vieira
Brandão) é uma composição para coro misto a seis vozes. A extensão vocal é a seguinte: Soprano, Ré3 - Lá4; Contralto, Sib2 - Dó#4; Tenor, Ré2
- Sol3; e Baixo, Sol1
- Mi3. Para a execução desta peça,
são indicados outros recursos sonoros, a exemplo da realização de trechos
recitados, com voz falada.
Muito
embora esteja organizada em blocos, Berimbau
e Boca de Forno se complementam pelo
sentido notadamente dançante que possuem, típico das manifestações
musicais ligadas à tradição oral brasileira. As duas partes estão escritas em
notação tradicional e, em ambas, a estrutura métrica é grafada nos compassos
binário, ternário e quaternário simples, totalizando oitenta e três compassos. Berimbau é uma forma tripartida e tem
melodias e harmonias construídas em Dó lídio, mixolídio e lídio/mixolídio. Boca de Forno também está organizada em
três seções e apresenta diferentes centros tonais.
A
preparação de Cussaruim poderá
envolver variadas atividades, incluindo a leitura e a compreensão textual, uma
breve passagem sobre a vida e a obra do poeta e do compositor, assim como
leituras sobre o maracatu. As informações apresentadas no
prefácio da partitura (baixe aqui) publicada pela FUNARTE, em 1982, são relevantes, pois
clarificam o pensamento de Vieira Brandão, que “se ateve na criação de dois
momentos musicais, nos quais a imagem folclórica de cussaruim se apresenta
envolta em ambientes rítmicos e melódicos contrastantes.” Ao detalhar sua
criação, complementa: “no primeiro quadro, incluso na lenda do boto amazônico,
utilizando agregações sonoras num jogo rítmico harmônico alternado com frases
declamadas. No segundo quadro, como personagem do maracatu nordestino, após o
diálogo inicial em uníssono, predomina um clima seresteiro onde as melodias se
sucedem e se entrelaçam no plano harmônico do coro misto. A coda reproduz o
diálogo do início que conduz ao clímax final.”
No
trabalho vocal, o emprego de exercícios de articulação pode
ajudar na emissão das palavras. Os vocalizes podem tomar como base as
constâncias rítmicas e fonéticas da partitura. Além disso, o treinamento deve
incluir a voz falada, em busca da projeção numa região
adequada, com finalidades artísticas, evitando o esforço desnecessário. Sob a
perspectiva melódica, o regente pode criar solfejos com as configurações modais
já citadas, bem como acordes quartais. Além dos aspectos descritos, caso haja
necessidade, é possível pensar em algum tipo de trabalho corporal/cênico que
permita uma encenação do texto em conformidade com as seções da música. Muito
embora apresente alguns pequenos desafios para coros menos familiarizados com esse tipo de linguagem, a peça é acessível, alegre e divertida. Recursos plásticos e cênicos poderão expandir a
imaginação e a motivação dos cantores e da plateia, dinamizando, deste modo, o
processo interpretativo, expandindo a experiência estética.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
segunda-feira, 23 de março de 2020
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