Nabor Nunes Filho (Itabaiana-PB,
1944 - Americana-SP, 2013) iniciou sua vida musical durante a infância, tocando na
Igreja Batista e na banda de sua cidade natal, lugar onde concluiu o
curso primário. Após essa fase, mudou-se para a capital Pernambucana a fim de
cursar o ginásio e o científico, no Colégio Americano Batista de Recife. Na
Veneza brasileira, graduou-se em Teologia pelo Seminário Batista Teológico do
Norte (SBTN), instituição na qual aprofundou seus estudos na arte dos sons e recebeu o título de Bacharel em Música Sacra. Posteriormente, fez Composição na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
tendo estudado com Almeida Prado e Damiano Cozzella, e obteve os títulos de
mestre e doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (UMP). Em
seu histórico profissional, encontramos registros da sua atuação como pastor e docente em diferentes instituições e localidades.
É certo que o canto coral foi a grande paixão de Nabor Nunes, razão pela qual, na pesquisa que realizamos, nós identificamos mais de 30 motetos, salmos e cantatas para vozes afins e mistas, a capela e com acompanhamentos variados (veja aqui). Contudo, ele escreveu arranjos e composições originais, peças instrumentais e vocais,
para solistas e diferentes formações.
O Pai Nosso Sertanejo é provavelmente um dos
maiores sucessos de Nabor Nunes. Publicado
pela primeira vez em 1974, seu texto faz menção à seca no Nordeste. Outros nomes de referência, dentre os quais Simei Monteiro, Jaci Maraschin, Sérgio Marcos,
Tito Lopes, Dércio Laurete e Nelson Mathias, também exploram temáticas
similares, demonstrando que uma nova vertente na música protestante nacional estava nascendo, na transição para a década de setenta. Essa opção pelo
vernáculo, o engajamento com as questões econômicas, políticas e sociais, assim
como o uso de elementos poéticos e musicais advindos da nossa tradição oral são reflexos, de certo modo, das diretrizes do Concílio Vaticano II e da Teologia da Libertação no seio do protestantismo em nosso país e, mais diretamente, no corpus do itabaianense.
A
música para coro de Nabor Nunes é vocalmente cômoda, sem grandes complexidades
rítmicas e harmônicas, sendo viável para conjuntos religiosos que desejam, por
exemplo, cantar repertório em língua portuguesa no serviço litúrgico. Em muitas
partituras, as cifras, acima da voz do soprano, sugerem a inserção de
instrumentos harmônicos, em favor de uma liturgia mais funcional e em sintonia
com as necessidades e possibilidades da congregação. O legado do compositor
paraibano, no entanto, não se restringe exclusivamente a esse contexto.
Suas peças, muito embora predominantemente religiosas, ocupam um espaço relevante
na literatura coral sacra brasileira da segunda metade do século vinte e ainda são desconhecidas por grande parte dos nossos pares. Por isso, elas precisam e devem ser editadas,
publicadas, analisadas, difundidas e interpretadas criteriosamente. Esse
trabalho está apenas começando.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
sábado, 21 de março de 2020
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