Quando os meus filhos iniciaram a vida escolar, frequentemente eu era desafiado pela equipe pedagógica do educandário onde eles
estudavam a escrever músicas que abordassem os tópicos explorados em sala de
aula. Na educação infantil, os temas eram variados e incluíam cores, formas,
noções de quantidade, volume e peso, texturas, o corpo humano. Por esta razão,
comecei a escrever canções para ilustrar aqueles encontros.
A primeira peça que escrevi chama-se Movimentando. A ideia surgiu por conta de uma série de atividades
exploratórias que as crianças estavam desenvolvendo, tanto do ponto de vista
prático, nos momentos de recreação, quanto na perspectiva teórica, na
realização das tarefas de casa. Meu propósito era produzir algo dinâmico, que
estimulasse a percepção corporal, a associação entre som e movimento. Além
disso, gostaria também de acrescentar um conteúdo específico, que
pudesse ser aproveitado exclusivamente nas aulas de música.
Como em todo o processo criativo, estipulei parâmetros e iniciei
o projeto. Defini que a melodia teria o âmbito de uma oitava e que seria
construída com a escala pentatônica, permitindo, deste modo, o trabalho em
conjunto com a manossolfa. O texto foi concebido com palavras simples, curtas, de
fácil entendimento, visando a garotada com três ou quatro anos. Busquei
vocábulos que pudessem sugerir movimentos físicos como, por exemplo, o ato de esticar,
pular, mexer, andar, marchar e dançar. No refrão, usei os advérbios cá e lá para reforçar a dicotomia próximo-distante, pois estão localizados nas fronteiras da região
grave-agudo da melodia. Enquanto a primeira parte é lenta e calma, associada ao
alongamento que geralmente precede os exercícios físicos, a segunda é mais
rápida, viva, agitada, dançante.
Compus essa obra em casa, na Rua Cravos, em Teresina, no
quarto de estudos, contemplando a beleza do jardim. Ia compondo e cantando,
enquanto meus pequenos, ao meu lado, cantarolavam alguns trechos do que
acabavam de ouvir, fato que me estimulava a continuar com a empreitada. Logo
que finalizei a composição, começamos a ensaiá-la e cantá-la em conjunto,
naquele mesmo recinto. Momento de grande alegria, ali, imediatamente, eu
percebi que o caminho era aquele e que o material seria bem aceito pela
gurizada. No dia seguinte, animado e já pensando em outros projetos, repassei o
material para os professores de educação musical e também apresentei-o na sala
de aula onde estavam os meus rebentos (partitura com cifra em Dó, Fá e vídeo). A
festa foi grande e acompanhada por violão e coreografia, elementos que ajudaram
na aprendizagem e expansão do repertório. Desde então, esta canção tem sido cantada Brasil e mundo afora,
por crianças, jovens e adultos de diferentes idades e contextos, posto que a
alegria que a música promove não tem limites, desconhece barreiras, é contagiante,
é a vida movimentando-se.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
quinta-feira, 26 de março de 2020
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2 comentários:
Adooooro essa música! Em quase todos os cursos que dou cantamos e dançamos, além de cantar com meus alunos na escola. É uma delicia!
Adooro essa musica!!!
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