O Coral Universitário da Paraíba, Campus I, João Pessoa, foi criado em 1963 e teve como primeiro regente o professor Pedro Santos. Posteriormente, e até o início dos anos noventa, o conjunto foi dirigido por Arlindo Teixeira, Clóvis Pereira, José Alberto Kaplan e Eli-Eri Moura. Nesse intervalo, o coro participou de vários eventos no Brasil e no exterior, destacando-se o Festival Internacional de Coros do Rio Grande do Sul, o Encontro de Corais do Porto, em Portugal, bem como os concertos no Lincoln Center, em Nova Iorque, Estados Unidos. O quarto lugar no Concurso Nacional de Corais promovido pela FUNARTE e Rede Globo de TV, no final da década de setenta, é um dos pontos relevantes na trajetória do ensemble.
Eu, particularmente, tive a oportunidade de ouvir o Gazzi de Sá pela primeira vez em 1986, por conta do III Festival Nordestino de Corais, realizado aqui em Campina Grande, no Teatro. Na ocasião, Eli-Eri estava a frente do coro, que iniciou a sua participação cantando Ave verum, de W. A. Mozart. Aquela não seria uma apresentação qualquer no palco do Severino Cabral. Logo após o término do conhecido moteto, o grupo interpretou um repertório formado por obras originais e arranjos, destacando-se Música Clássica para Piano, Modinha para cantora e piano e Música americana para cantor e jazz band (para as partituras, contate-me).
O coral empregou vários recursos cênicos na interpretação dessas peças. Fundamentalmente, um pequeno grupo de atores encenava, enquanto os coralistas cantavam e interagiam em sintonia com os protagonistas, que, de modo geral, faziam mímicas, exagerando nos gestos, criando ambiguidades, provocando o riso generalizado, fazendo a plateia delirar. Ao ouvir a gravação, que foi digitalizada recentemente a partir de uma fita K-7, é possível compreender o que estou falando (veja aqui).
Algumas das obras eram de autoria do próprio maestro, que, por razões desconhecidas, assinava com diferentes pseudônimos, fato que só descobri a posteriori, quando nos tornamos mais próximos. Embora musicalmente simples, as peças eram criativas, tecnicamente adequadas e interpretadas numa linguagem de fácil acesso ao público, sempre atento às novidades. Também merece destaque o arranjo que Eli-Eri Moura fez para Sete cantigas para voar, de Vital Farias. É um primor. A atuação do Gazzi de Sá foi emblemática, divertida e em sintonia com as práticas em voga no Brasil e, mais particularmente, na UFPB, desde os tempos do seu primeiro diretor, que era um sujeito muito ligado ao teatro e ao cinema. Aquela performance foi inesquecível, e até hoje lembro da forma como eles terminaram a noitada, cantando um clássico de Wagner Amorosino e Carlos Castelo, que não saiu da minha cabeça e cujo texto resume-se ao título, que assim diz: Duvido que essa música toque no FM ou no AM.
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
terça-feira, 14 de abril de 2020
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3 comentários:
Show Prof, Dr. Vladimir. Muito bom! Amo gravações antigas pelo registro histórico e sonoridade!
Ralmon, que bom que ouviu e gostou. Limpei o K-7, fiz a decupagem e depois dei um pequeno ganho no Audacity, o que é um acontecimento na minha vida, tendo em vista a minha falta de intimidade com essa tecnologia. Abraço.
Vladimir, acabo de receber esse lindo presente do Maestro Eli-Eri. Estou emocionado e muito feliz. Obrigado! Um abraço fraterno!
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