Construir a identidade sonora de um grupo é um processo
complexo. No caso do canto coral, muito embora essa tarefa possa ser realizada
colaborativamente com a pessoa que cuida da preparação vocal, por meio de aulas
coletivas ou individuais, defendo que cabe exclusivamente a quem dirige moldar e definir, ao longo dos ensaios, o produto final idealizado em sua mente.
Essa missão exige um amplo domínio técnico e uma trajetória na área do canto lírico. Ainda que tais elementos não funcionem isoladamente, sem eles a condução das ações didático-pedagógicas será árdua, sobretudo quando temos que lidar com intérpretes inflexíveis e indispostos a colaborar, que se recusam a fazer ajustes vocais em prol da coletividade, que resistem às mudanças, ignorando as instruções dadas e que almejam a uniformidade. Dependendo da situação, o quadro se agrava quando a crítica técnica é entendida enquanto ofensa pessoal, uma afronta à trajetória e à formação do indivíduo com o qual interagimos. Ao solicitar que alguém cante fraco ou forte, no tempo ou afinado, com mais ou menos vibrato, projetando a voz nesta ou naquela direção, estamos sendo racionais, objetivos, funcionais, impessoais, motivo pelo qual não há espaço para melindres, caras feias ou tristeza, porque não se trata de injúria ou doença incurável.
Neste sentido, a prática orquestral poderia ser nosso modelo, sobretudo quando levamos em consideração o papel do spalla e líderes dos naipes, que atuam conjuntamente com a direção definindo, por exemplo, a organização das seções e as arcadas, dentre outras questões. Se a nossa meta é a excelência técnica e artística, devemos optar pelo desenvolvimento de habilidades, que serão adquiridas por meio do treinamento sistemático, com disciplina e feedback. Comento isso, porque alguém me disse outro dia que a extensão do seu coro era de quatro oitavas (Dó1 - Dó5) e que aquele seleto time era formado apenas por experts. Eu fiquei quieto e tentei entender de que modo tais parâmetros, per se, asseguravam a qualidade do trabalho do meu colega, posto que, incontáveis vezes, já vi exímios profissionais interpretarem a literatura coral de forma conjunta sem necessariamente soar como um conjunto.
Como regentes, é crucial que tenhamos conhecimentos e experiências que nos permitam produzir uma sonoridade indelével, tornando cada agrupamento único. Independentemente de trabalharmos com diletantes ou não, com vozes excepcionais ou ordinárias, nós precisamos é ter consciência e perícia para saber o que fazer com os recursos disponíveis, sem frustrações, traumas e complexos de superioridade ou inferioridade. Que sejamos plenos e belos da melhor forma, como quisermos e pudermos. Essa cultura ainda tão prevalente em nosso círculo, que valoriza o exibicionismo e a frivolidade em detrimento da qualidade, preservando um nocivo ranço primadonesco, deve ser repensada. Aqui está o fósforo: “vamos tocar fogo no parquinho!”
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
Essa missão exige um amplo domínio técnico e uma trajetória na área do canto lírico. Ainda que tais elementos não funcionem isoladamente, sem eles a condução das ações didático-pedagógicas será árdua, sobretudo quando temos que lidar com intérpretes inflexíveis e indispostos a colaborar, que se recusam a fazer ajustes vocais em prol da coletividade, que resistem às mudanças, ignorando as instruções dadas e que almejam a uniformidade. Dependendo da situação, o quadro se agrava quando a crítica técnica é entendida enquanto ofensa pessoal, uma afronta à trajetória e à formação do indivíduo com o qual interagimos. Ao solicitar que alguém cante fraco ou forte, no tempo ou afinado, com mais ou menos vibrato, projetando a voz nesta ou naquela direção, estamos sendo racionais, objetivos, funcionais, impessoais, motivo pelo qual não há espaço para melindres, caras feias ou tristeza, porque não se trata de injúria ou doença incurável.
Neste sentido, a prática orquestral poderia ser nosso modelo, sobretudo quando levamos em consideração o papel do spalla e líderes dos naipes, que atuam conjuntamente com a direção definindo, por exemplo, a organização das seções e as arcadas, dentre outras questões. Se a nossa meta é a excelência técnica e artística, devemos optar pelo desenvolvimento de habilidades, que serão adquiridas por meio do treinamento sistemático, com disciplina e feedback. Comento isso, porque alguém me disse outro dia que a extensão do seu coro era de quatro oitavas (Dó1 - Dó5) e que aquele seleto time era formado apenas por experts. Eu fiquei quieto e tentei entender de que modo tais parâmetros, per se, asseguravam a qualidade do trabalho do meu colega, posto que, incontáveis vezes, já vi exímios profissionais interpretarem a literatura coral de forma conjunta sem necessariamente soar como um conjunto.
Como regentes, é crucial que tenhamos conhecimentos e experiências que nos permitam produzir uma sonoridade indelével, tornando cada agrupamento único. Independentemente de trabalharmos com diletantes ou não, com vozes excepcionais ou ordinárias, nós precisamos é ter consciência e perícia para saber o que fazer com os recursos disponíveis, sem frustrações, traumas e complexos de superioridade ou inferioridade. Que sejamos plenos e belos da melhor forma, como quisermos e pudermos. Essa cultura ainda tão prevalente em nosso círculo, que valoriza o exibicionismo e a frivolidade em detrimento da qualidade, preservando um nocivo ranço primadonesco, deve ser repensada. Aqui está o fósforo: “vamos tocar fogo no parquinho!”
Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)
2 comentários:
Muito bom, parabéns! Na prática de banda (com destaque àquelas mantidas por projetos como os de inclusão), um desafio é construir, "com bases sólidas e qualidade técnica", um resultado sonoro sem frustar as expectativas da entidade mantenedora que em muitos casos prioriza a quantidade "de atendidos" em detrimento as etapas que naturalmente devem ter seu espaço garantido no decorrer do trabalho.
Josenildo, o seu desafio é enorme, pois equilibrar quantidade com qualidade não é fácil. Adiante no trabalho. Você faz a diferença por aí. Abraço.
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