sábado, 25 de abril de 2020

O Canto Coral na Paraíba: Clóvis Pereira

Clóvis Pereira nasceu em Caruaru-PE, em 1932. Filho de pai músico, ao mudar-se para Recife, por volta dos anos cinquenta, deu continuidade aos estudos no Conservatório Pernambucano de Música e na Escola de Belas Artes da UFPE, instituições em que teve contato com nomes de referência, a exemplo do compositor Guerra-Peixe, e das quais viria a ser professor posteriormente. Sua formação acadêmica também inclui uma temporada na Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos. Em seu catálogo composicional encontram-se obras vocais e instrumentais para diferentes formações, algumas com grande notoriedade por conta da conexão com o Movimento Armorial.

Como docente, atuou em diferentes universidades. Na UFPB, além de lecionar, regeu o Coral Universitário da Paraíba, grupo com o qual representou o Brasil, em 1974, no Fourth International Choir Festival, apresentando-se no Kennedy Center (Washington, D.C) e no Lincoln Center (Nova Iorque, NY). Um dos trabalhos mais representativos que ele realizou em João Pessoa, nesta época, foi a Grande Missa Nordestina, escrita para solistas, coro e orquestra de câmara, em 1977, criação que reitera seus vínculos com a proposta estética encabeçada por Ariano Suassuna. Encomendada pela UFPB para celebrar o primeiro ano de gestão do Reitor Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, esta obra-prima está dividida em cinco movimentos (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus-Benedictus e Agnus Dei) e foi gravada pelo coro da referida instituição, no auditório do CPM. O lançamento do LP, com selo Marcus Pereira, ocorreu em 1978. Posteriormente, ele revisou a Missa, acrescentando outros instrumentos (vídeo).

Clóvis Pereira escreveu arranjos antológicos. O pato (Jayme Silva - Neuza Teixeira), por exemplo, sintetiza a essência da bossa nova, com suas harmonias e síncopes, e parece ter sido inspirado nas big bands e orquestras de frevo, cujas sonoridades eram familiares ao compositor. Aliás, essa releitura e a de Garota de Ipanema (Tom Jobim - Vinicius de Morais) foram dedicadas ao Coral da UFPB, Campus II, regido por Nelson Mathias. Numa pesquisa que realizamos, descobrimos que o regente da capital, querendo desafiar o agrupamento de Campina Grande, escrevera este último a oito vozes e de forma bem complexa. Na partitura manuscrita, inclusive, há um registro do arranjador, dizendo que ele teria iniciado a escrevê-lo às 8h30min, do dia 25 de maio de 1979, e terminado às 15h00min do mesmo dia. Um mês após aceitar o desafio, ele ouviu a estreia da peça que havia escrito, reconhecendo a excelência do trabalho apresentado por Nelson (vídeo).

A passagem do maestro Clóvis Pereira pela Paraíba ampliou os horizontes musicais em nosso estado, enriquecendo sobremaneira a atividade coral. Seu vasto corpus está aí para ser editado, publicado, estudado e interpretado, não só pelo valor histórico que possui, mas porque é belo e transcende a essência desse povo-tempo-lugar.

Vladimir Silva (silvladimir@gmail.com)

3 comentários:

Ralmon Sousa disse...

SHOW! Esse canal é enriquecedor, e nos levando a uma viagem sem fim pelo mudo da música, por caminhos pavimentados, com sinalizações corretas... uma viagem agradável, com uma amiga companheira (a música)! Parabéns, Prof; Dr. Vladimir. Segue em frente!!

Vladimir Silva disse...

Querido Ralmon, grato pela sua companhia. Espero que os textos tenham ajudado você de alguma forma. Abraço.

Anônimo disse...

Eu participei da gravação do disco da Missa Nordestina. Fomos gravar em Recife. Fiquei extremamente triste porque meu nome não saiu na relação dos cantores, nos créditos. Meu naipe era contralto. Mas o importante é que lembro que participei.

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